quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Cordel em São Miguel Paulista

No sábado, a partir das 11h, estarei na Casa de Cultura Antônio Marcos, localizada à Rua Irineu Bonardi, 169, em São Miguel Paulista, ministrando palestra sobre a Literatura de Cordel. 


CTN promove concurso de cordel


1º Concurso CTN de Literatura de Cordel

REGULAMENTO

“Literatura de cordel é a literatura feita por poetas de bancada e achada nos folhetos populares vendidos nas feiras-livres, nas livrarias ou de mão em mão, e também à porta dos teatros etc., geralmente por seus próprios autores. Além de brasileiros, há cordelistas mexicanos, portugueses, chilenos. No México, esse tipo de literatura é chamado de pliego de cordel ou pliegos sueltos; em Portugal, de folhas volantes ou folhas soltas; no Chile, de coplas de ciegos. Entre os temas mais abordados na literatura de cordel estão secas cíclicas especialmente no Nordeste, a política e a economia e entre os personagens ou nomes famosos da vida brasileira, como o cangaceiro Lampião, o sanfoneiro Luiz Gonzaga, o ex-presidente da República Getúlio Vargas e os líderes religiosos padre Cícero e frei Damião. Na capa dos folhetos, quase sempre impressos em preto e  branco e em papel jornal, são postas fotos de artistas ou desenhos feitos a bico de pena ou em madeira talhada,  xilogravura. O vocábulo Cordel foi registrado pela primeira vez no Dicionário Contemporâneo, de Francisco Júlio Caldas Aulete (1823-1878), originalmente editado em Portugal, em 1881. No Brasil, o pioneiro na publicação de folhetos foi o paraibano Leandro Gomes de Barros (1865-1918)”. Resumo do texto do folheto Uma Breve História do Cordel, de Assis
Ângelo, publicado em 2003.

1. PARTICIPAÇÃO

O 1º. Concurso CTN de Literatura de Cordel, instituído pelo Centro de Tradições Nordestinas, é aberto a poetas profissionais e amadores residentes em qualquer parte do Brasil, brasileiros ou não, independentemente de idade, sexo, raça e credo.

2. TEMA: A PRESENÇA NORDESTINA NA CIDADE DE SÃO PAULO

2.1 – O Concurso propõe como tema central a presença dos nordestinos na capital de São Paulo. Cada autor poderá inscrever até 3 (três) obras no idioma português.  www.ctn.org.br/festivaldecordel - (11) 3488-9417
2.2  – Obrigatoriamente, os textos inscritos deverão ser inéditos e desenvolvidos nas modalidades sextilhas e setilhas, no total de 63 estrofes em sextilhas e 32 estrofes em setilhas, como neste exemplo (em sextilha) do poeta Marco Haurélio:

Cordel é literatura
Do nordeste brasileiro,                                                                                                            
Que teve em Leandro Gomes
Um poeta pioneiro,
Sua maior expressão
No Brasil e no estrangeiro.

Por Caldas Aulete o termo
Foi dicionarizado.
Hoje o chamado cordel
No Brasil é divulgado,
E em várias partes do mundo
Aplaudido e estudado.

E neste exemplo, em setilhas:

Portanto o poeta é
Também um trabalhador
Que publica e negocia
Nas feiras do interior
Os folhetos de bravura,
Religião, aventura,
Encantamento e amor.

Qualquer tipo de trabalho
Está ligado ao cordel,
Do operário nas fábricas
Ao agricultor fiel,
Todos estão retratados
E sempre homenageados
Na pena do menestrel

2.3  – O 1º Concurso CTN de Cordel tem como objetivo reunir, premiar e divulgar as melhores obras de artistas de cordel e de xilogravura atuais e de www.ctn.org.br/festivaldecordel - (11) 3488-9417 renome ou não, do Brasil, expondo-as em espaço expositivo confirmado especialmente para recebê-las.

3. INSCRIÇÕES E PRAZO

3.1  – As inscrições para o  1º. Concurso CTN de Literatura de Cordel serão gratuitas e serão abertas no dia 11/08/2011 e se encerrarão às 23:59hs (vinte e três horas e cinquenta e nove minutos) do dia 11/09/2011.
3.2 – Os concorrentes estarão inscritos no 1º. Concurso CTN de Literatura de Cordel a partir do recebimento de suas obras no endereço eletrônico constante no item 3.3. As obras enviadas via correio somente estarão inscritas se postadas até 48 (quarenta e oito) horas antes  do  dia de encerramento constante no item 3.1.
3.3 – Os textos poéticos deverão ser  digitalizados e impressos em 01 (uma) via, envelopados e enviados à sede do CTN, à Rua Jacofer, 615, bairro do Limão, São Paulo, SP,  CEP: 02712-070 ou pelo e-mail festivaldecordel@ctn.org.br
3.4 – As cópias das obras enviadas não serão devolvidas.

4. COMISSÃO JULGADORA

4.1 – O julgamento das obras inscritas caberá  à comissão de especialistas indicada pelo CTN, onde serão escolhidas 20 (vinte) obras para publicação.
4.2 – A Comissão Julgadora terá poder soberano na escolha das obras inscritas.
4.3 – A Comissão Julgadora divulgará no site oficial do Festival de Cordel
www.ctn.org.br/festivaldecordel as obras classificadas do 1º (primeiro) ao 20º
(vigésimo) lugar, no dia 22/09/2011.
4.4 – Da lista de divulgação das obras vencedoras, deverá constar: o título da obra, o pseudônimo do autor (quando houver) e o nome completo do autor.www.ctn.org.br/festivaldecordel - (11) 3488-9417

5. DOS RECURSOS

5.1 – Os artistas que discordarem ou quiserem fazer algum questionamento à
Comissão Julgadora quanto ao resultado do Concurso, poderão fazê-lo entre
os dias 22 e 23/09/2011.
5.2 – Os recursos serão recebidos somente no prazo estabelecido no item anterior e deverão ser enviados somente via e-mail constante no item 3.3.
5.3 – A Comissão Julgadora publicará no dia 26/09/2011, no site do CTN e do Festival de Cordel, o resultado de cada recurso impetrado.
5.4 – Após a divulgação do resultado dos recursos, não caberá nenhum tipo de apelação ou outros recursos, sendo considerado este o resultado final.

6. PREMIAÇÃO

6.1 – As obras escolhidas pelos jurados em 1º, 2º e 3º lugares receberão, respectivamente, 1 Netbook; 1 Câmera Fotográfica Digital; e 1 Celular. O anúncio da premiação e os nomes dos autores premiados serão publicados oficialmente no site do Festival, www.ctn.org.br/festivaldecordel e também através da imprensa, no dia 26/09/2011. As 20  obras selecionadas serão reunidas e publicadas em um Box, que será distribuído gratuitamente a entidades culturais, bibliotecas e também na rede pública de ensino do Estado de São Paulo. Além dos prêmios previstos neste Regulamento para os 1º, 2º e 3º lugares, os 20 selecionados receberão troféus e 05 (cinco) exemplares dos boxes contendo as 20 obras classificadas.

7. DIREITOS AUTORAIS

7.1 – Ao terem suas obras inscritas no 1º. Concurso CTN de Literatura de Cordel, os autores estarão concordando automaticamente com a liberação de uso eventual e posterior ao Concurso de suas obras pelo CTN, que preservará, no entanto, a menção de crédito e respeito aos direitos de autor, de acordo com a legislação em vigor no País.

Para saber mais: http://www.ctn.org.br/festivaldecordel/arquivos/regulamento_festivaldecordel.pdf

Folclore e identidade

Folclore não sai de moda.
É catira, cururu,
É frevo, samba-de-roda,
Baião e maracatu.
São noites mal-assombradas,
São aboios e toadas,
É lamparina e pilão.
É visagem e mau agouro,
É gibão, chapéu de couro
E debulha de feijão.

Moreira de Acopiara, cordelista cearense



A palavra folclore (em inglês folk-lore) foi empregada pela primeira vez em 22 de agosto de 1846. O arqueólogo inglês Willians Johns Thoms, em artigo endereçado à revista The Atheneum, assinado sob o pseudônimo Ambrose Merton, foi o pioneiro. O termo abrangia o que Thoms entendia por “antiguidades populares”: contos, lendas, provérbios, mitos, romances, crenças, rifões superstições etc. Nesse artigo, nota-se a preocupação com o desaparecimento das tradições populares face à modernização dos costumes. A mesma apreensão já havia levado dois filólogos alemães, os irmãos Jakob e Wilhelm Grimm, a coletarem histórias e lendas do povo de seu país, reunidas posteriormente no Kinder- und Hausmärchen (Contos da criança e do lar, 1812), a mais famosa coletânea de contos populares já feita.

No Brasil, a partir dos pioneiros Celso de Magalhães (1849-1879), Couto de Magalhães (1836-1898) e Silvio Romero (1851-1914)), pesquisadores das mais diversas áreas vêm dedicando tempo e envidando esforços na tentativa de entender as manifestações da cultura espontânea. Com Cantos populares do Brasil e Contos populares do Brasil, o sergipano Silvio Romero deu o impulso necessário à pesquisa do folclore, embora seu trabalho se detivesse mais na recolha de modalidades da literatura oral do que no estudo do material. A publicação do livro O folclore, por João Ribeiro, a partir de conferências realizadas na Biblioteca Nacional em 1913, é o marco inicial dos estudos sistemáticos do folclore brasileiro.

Bumba meu boi

O folclore, além da literatura oral, abrange as festas religiosas e profanas, os folguedos, as brincadeiras infantis, as danças tradicionais, o vestuário e a culinária. No rol entram, também, as superstições e os costumes. Às vezes, se fundem texto, dança e gestual. É o caso do bumba meu boi, que, além de folguedo, é um auto popular bastante difundido, ligado ao ciclo de festas natalinas. Sua popularidade deve-se à importância que teve a pecuária no processo de colonização do País. Confunde-se com o que estudiosos classificam como ciclo do gado, a ponto de apresentar familiaridades com o conto popular O vaqueiro que não mentia. No enredo deste, a honestidade de um vaqueiro é posta à prova quando uma moça bonita o instiga a matar o boi favorito do patrão, pois deseja comer um pedaço: língua, fígado ou coração.

A origem do bumba-meu-boi remonta à mitologia da Grécia Antiga: Dionísio Zagreu, filho de Zeus e Perséfone, por instigação de Hera, foi morto, despedaçado e devorado pelos titãs. Zagreu estava, no momento de sua morte, metamorfoseado em touro. O seu coração, no entanto, foi recolhido por Atena e, devorado por Sêmele, deu origem ao segundo Dionísio, o deus do vinho. O despedaçamento ritual sobreviveu no folguedo. No Nordeste brasileiro, região de maior fixação do tema, os pedaços do boi geralmente são distribuídos entre os conhecidos de quem veste a armação representando o animal.

Dois mitos brasileiros

Alguns mitos abrangem todo o território nacional, embora de região para região difiram nas características e atribuições (que podem ser benéficas e maléficas). O Saci, por exemplo, representado como um menino negro girando ou correndo numa só perna, com um cachimbo de barro e um gorro vermelho na cabeça, resulta da fusão de crenças de origem europeias e africanas. Da Europa, ele herdou o gorro (barrete), dos duendes. Antes disso, os indígenas acreditavam tratar-se de um curumim peludo e travesso. Segundo a crença popular, para alguém capturar o saci é preciso, primeiro, atirar uma peneira no redemoinho em que ele quase sempre se oculta. De posse do gorro, o captor, então, terá o maroto Saci às suas ordens.

Do Curupira, originalmente um ente medonho que impunha terror aos habitantes da floresta, deriva o Pai do mato, conhecido no sudoeste da Bahia como “um velho horroroso”, também coberto de pelos, barba densa e cabelos desgrenhados, “protegendo os animais dos abusos dos caçadores”. É mais alto que a árvore mais alta da floresta e persegue os caçadores que violam os tabus ligados à sua atividade. O dia de São Bartolomeu, 24 de agosto, por exemplo, é interdito à caça. Nesse dia aziago, acreditam os caçadores, “o diabo está solto”.

Saci versus Halloween

O dia 31 de outubro, quando se comemora nos Estados Unidos o Dia das Bruxas (ou Halloween), foi escolhido para se comemorar, por aqui, o Dia do Saci. A proposta visa a combater a exagerada influência do Halloween na cultura brasileira. Algumas escolas, no dia, promovem atividades às quais as crianças devem comparecer caracterizadas como bruxas. A resposta brasileira parece ter surtido efeito, pois chamou atenção para a figura do Saci que se tornou, informalmente, uma espécie de mascote do folclore brasileiro.

Folclore e educação

As escolas geralmente trabalham o tema apenas em agosto que, institucionalmente, é o mês do folclore. No entanto, a cultura popular está mais presente em nossas vidas do que supomos. Inconscientemente, ao fazermos um gesto de saudação, podemos estar repetindo um exemplo surgido há milênios. O folclore é, segundo o grande estudioso do tema no Brasil, Luís da Câmara Cascudo (1898-1986), “o milênio na contemporaneidade”.

Sem abrir mão da programação de agosto, outras atividades podem ser sugeridas. Desde a recolha de contos populares, lendas e adivinhas, até a encenação de autos tradicionais, a escola tem um papel fundamental na formação cultural dos seus alunos que fortalecerá, com a noção da consciência identitária, os alicerces da cidadania. As lendas de origem de uma comunidade, por exemplo, têm muito a dizer ao nosso povo. É o caso da cidade de Paratinga, na Bahia, cujo surgimento está diretamente ligado à religiosidade popular.

Localizada às margens do rio São Francisco, Paratinga já se chamou Santo Antônio do Urubu de Cima. Isto em 1718, quando deixou de ser arraial, passando a freguesia. A razão do nome incomum: uma imagem do santo português teria sido encontrada por um caçador num tronco de árvore. No galho “de cima”, a ave, de asas abertas, protegia o santo do calor do sol. No local, foi construída a capela onde o santo era venerado. A imagem teria sido deslocada para o santuário de Bom Jesus da Lapa – uma gruta transformada em igreja –, mas sempre retornava para o seu centro de devoção. Suas pegadas ficavam impressas na areia.

Lendas como a descrita acima podem ser recuperadas da memória popular a partir de um projeto pedagógico que valorize as manifestações tradicionais. O mesmo pode ser pensado em relação às quadras populares. Abaixo, alguns exemplos desta singela manifestação poética:


Amarrei o meu cavalo,
Amarrei às nove horas.
Esperando o meu benzinho,
Meu benzinho, até agora...

Soltei meu cavalo n’água,
Ele n’água se perdeu.
Nesse mundo não existe
Amor puro igual o meu.

Botei meu cavalo n’água
Só pra vê-lo ir nadando.
Se quiser ver meu amor,
Olhe só quem vem cantando.

Esta, que evoca o ciclo natalino, é de rara beleza:


Nossa Senhora com dor,
São José foi buscar luz.
São José não é chegado,
Nasceu nosso Bom Jesus.

Entendamos, finalmente, o folclore dentro de um processo dinâmico: em constante evolução. A soma de todas as manifestações tradicionais, de nossas crenças mais arraigadas, vivas e cotidianas, é uma das possíveis definições para folclore.

E quem souber mais histórias que conte outra!...

Nota: este artigo foi publicado originalmente na revista Páginas Abertas (Paulus) em agosto de 2010.