quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

A lenda da Moça de Branco

Imagem: Winchester Home

Em certo bairro surgiu um boato que dizia que quem passasse por um pedaço da estrada, que ia de uma porteira a outra depois, das 11 da noite, aparecia uma moça vestida de branco, em cima do barranco, e pulava na garupa do cavalo, e só descia quando chegava na outra porteira.


Um rapaz, muito descrente, ouvindo isso, disse à sua mãe: 



— É hoje que vou carregar a moça de branco na garupa e vou até beijá-la, pois tenho de ir à cidade e só volto depois das 11 da noite.

Sua mãe lhe implorou para que não fizesse isso, mas não adiantou. E o rapaz foi. Quando já estava dando 11 horas, ele veio embora. Mas, quando estava chegando na porteira, começou a ficar com medo e pensou:

— Vou bater a espora bem forte no cavalo para que ele corra bastante de uma porteira — outra, não dando tempo para a moça de branco subir.

Mas quando atravessou a primeira porteira, já viu a moça e ela ainda falou:

— É hoje!

E seu cavalo, mesmo ele batendo a espora bem forte, não corria.

A moça de branco subiu na garupa do cavalo e, pegando em seu rosto com a mão gelada, falava:

— Você não vai me dar um beijo? Cadê o beijo que você me prometeu? — e repetia isso várias vezes.

Enquanto isso, seu cavalo ia andando bem devagar como se tivesse um peso enorme nas costas. Quando chegou à outra porteira, a moça de branco sumiu. E o cavalo do rapaz correu tanto que parecia voar, fazendo um enorme barulho com as patas. A mãe do moço, que já estava preocupada, veio correndo. Quando abriu a porta, o rapaz desmaiou.

Só foi acordar o outro dia, muito assustado e dizendo:

— Desça daí, desça daí!

Quando sua mãe o acalmou, ele disse que nunca ia abusar e nem andar naquele pedaço de estrada mais à noite.

Contado por: Maria Cândida, mãe.
Recolhido por: Creusa Maria de Souza.
Local: São Francisco Xavier – SP.



Nota: Há alguns meses, quando me sobra um tempinho, leio os contos e lendas recolhidos por meu amigo Daniel D'Andrea. Incumbi-me da tarefa de conseguir uma editora para uma coletânea de histórias recolhidas na região "tropeira" de São Paulo. A história que reproduzo aqui, A moça de branco, aproxima -se da "Vanishing Hitchhiker", o fantasma da boleia de incontáveis relatos, estudada por meu amigo J.J. Dias Marques. Mas segundo este pesquisador, a razão de ser da "Vanishing Hitchhiker" é a suposição de se tratar de uma pessoa viva, o que não acontece no relato acima reproduzido.

Krampus e "Seu Dezembro"

Instigado por uma postagem do ilustrador Dane D'Angeli,  no Facebook, fui pesquisar a estranha figura acima reproduzida, o Krampus, ser mitológico que assombra e pune as crianças que não se comportaram bem em países como Alemanha e Áustria. O dito cujo aparece no dia 5 de dezembro, um dia antes da visita de São Nicolau (Sinterklaas ou Santa Claus), personagem que serviu de base para o Papai Noel.
Aí, lembrei-me de uma história que minha tia Lili costumava contar sobre a chegada de um andarilho à casa de sua avó (e minha bisavó), que, salvo engano, chamava-se Josefina. A casa ficava numa região rural de Igaporã, próximo ao Barreiro, e a "visita" se deu em circunstâncias peculiares. Josefina havia, há poucos dias, descansado de uma gravidez, e o resguardo a impedia de se levantar. O seu marido, por necessidade, se ausentara justo naquele dia. E as crianças foram obrigadas a servir ao andarilho: primeiro ele exigiu comida, no que foi atendido. Depois, reclamando do frio, fê-los acender uma fogueira na própria varanda em que se instalara. Acabada a lenha, os meninos passaram a queimar sabugos de milho.
Além de reclamar o tempo todo, o "visitante" prometeu, quando a fogueira se extinguisse, dar cabo de cada menino, a quem chamava, indistintamente, "Cu de sabugo". Um deles, escapando pelo fundo da casa, foi chamar os tios, irmãos de Josefina, que moravam perto. Quando estes chegaram, o "visitante" que, a bem da verdade, devia ser um dos escravos "libertos" pela Lei Áurea, sem eira nem beira, fugiu, sem fazer mal a nenhuma das crianças.
O fato é que a sua passagem ficou gravada indelevelmente na memória das crianças. Quando queria assustar os netos, Josefina contava a história da Menina e do Velho do Surrão, aquela mesma dos brincos de ouro esquecidos na fonte, associando-a com o fato testemunhado pela família. E o visitante foi rebatizado como "Seu Dezembro", pois foi neste mês que ele aparecera.
E "Seu Dezembro" se tornou uma espécie de Papão para mais de uma geração. Menos assustador que o Krampus, é verdade, mas, ainda assim, uma boa razão para se comportar bem durante o ano.
PARA SABER MAIS SOBRE O KRAMPUS:

E, para fechar esta postagem, Feliz Natal!