quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Cordel na TV Escola



Avisa-nos Arievaldo Viana em seu fotolog Acorda Cordel.

O programa SALTO PARA O FUTURO, da TV ESCOLA (MEC) exibiu, entre 18 e 22 de outubro uma série sobre LITERATURA DE CORDEL que teve como consultor o poeta ARIEVALDO VIANA, também um dos entrevistados do programa. Foram feitas tomadas no estado do Ceará, especialmente em CARIDADE, onde o projeto ACORDA CORDEL encontra-se de vento em popa. Destaques do programa foram: Gilmar de Carvalho (professor, pesquisador e escritor), Ednardo (cantor e compositor cearense, autor de PAVÃO MISTERIOSO), Braulio Tavares (compositor, poeta e escritor), Marco Haurelio (poeta, folclorista e escritor), Aderaldo Luciano (professor e pesquisador), Zé Maria de Fortaleza (cantador e cordelista) e o professor Jorge, do Rio de Janeiro, que trabalha com cordel há mais de três anos.

No sítio do Programa, ainda, há um texto de minha autoria (clique AQUI para ler) sobre a abrangente temática da Literatura de Cordel, além de artigos de Arievaldo Viana, consultor da série.

Abaixo, trecho do meu artigo:

Temáticas e características da literatura de cordel


1.TEMÁTICA

A Literatura de cordel é a poesia popular, herdeira do romanceiro tradicional, e, em linhas gerais, da literatura oral (em especial dos contos populares, com predominância dos contos de encantamento ou maravilhosos). É a literatura que reaproveita temas da tradição oral, com raízes no trovadorismo medieval lusitano, continuadora das canções de gesta, mas também espelho social de seu tempo. Com esta última finalidade, a Literatura de Cordel receberá o qualificativo – verdadeiro, porém reducionista – de “jornal do povo”. O cordelista, como hoje é conhecido o poeta de bancada, é parente do menestrel errante da Idade Média, que, por sua vez, descende do rapsodo grego.

No Nordeste brasileiro,
Conservados na memória,
Romances, contos e xácaras
Lembravam a antiga glória
De Portugal e da Espanha,
De que nos fala a História.

Era esse o tempo das gestas
Dos cavaleiros andantes,
E essa poesia rude
Dos bardos itinerantes
Foi trazida para a América
No bojo dos navegantes.

Essa poesia foi
Cantada pelos jograis,
Celebrando os grandes feitos
Dos heróis medievais,
E também falando sobre
Romances sentimentais.

E quando começa o ciclo
Das Grandes Navegações
De Portugal e da Espanha,
As antigas tradições
Vão se acomodando aos poucos
Pelas novas possessões.

(TRECHO DO FOLHETO: O CORDEL; SEUS VALORES,
SUA HISTÓRIA, de Marco Haurélio e João Gomes de Sá.)

O Cordel abarca os mais variados temas, desde as histórias jocosas, como Proezas de João Grilo e O Cavalo que Defecava Dinheiro, até dramas históricos, como Joana D’Arc, Heroína da França e Antônio Conselheiro e a Guerra de Canudos. A Literatura de cordel, desde o seu início, no final do século XIX, se abeberou de fontes como o romanceiro tradicional. Desta fonte da tradição oral nasceram histórias, como A Triste Sorte de Jovelina (de Sátiro Xavier Brandão) e Brás e Anália (de Joaquim Batista de Sena). Os dois cordéis contam basicamente a mesma história: um casal separado pela condição social adversa: a moça rica é impedida pelo pai de namorar o rapaz pobre. Combinam uma fuga, mas a moça termina sendo morta por uma onça. Há um romance de autor desconhecido chamado José e Maria (recolhido em Parapiranga, Bahia, pelo folclorista sergipano Jackson da Silva Lima, e em Igaporã, Bahia, pelo cordelista Marco
Haurélio) que traz o embrião desta história. Abaixo a versão recolhida por Marco Haurélio:

Idade de doze anos,
José e Maria amava,
Mas o velho pai da moça
Com isso não concordava.
Nas cartas que escrevia,
Com tristeza, ela falava:
“Acho melhor nós fugir”.
Outro jeito não achava.

Combinaram de encontrar
Na mata do Tombador.
Maria saiu de casa,
A má sorte acompanhou.
Bem na volta do caminho,
Onde a onça lhe pegou.
Maria tinha um xale branco.
No lugar ele ficou.

José conheceu o xale,
Pela mata foi entrando.
A trança do seu cabelo
Na picada foi achando.
Chegou na beira do rio,
Do outro lado foi nadando.
Chegou na gruta da pedra.
A onça tava esperando.

José viu Maria morta.
Pela gruta ele entrou.
Arrancou de seu punhal,
Com a fera ele lutou.
Arrancou de seu revólver,
Ela lhe desafiou.

Foi passando um caçador,
José inda pôde falar:
“Dê lembrança a minha família,
Que não posso mais voltar.
Maria morreu por mim,
Por ela vou me acabar.
Aqui dentro destas pedras
Três almas cá vão ficar.
Nós não casamos na terra,
Mas no céu vamos morar”.


(...)

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