quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Cordel desbotado
























Há algum tempo, fala-se na escolha do samba-enredo da escola carioca Salgueiro, que tratará da literatura de cordel. Definida a letra, assinada por Marcelo Motta, Tico do Gato, Ribeirinho, Dílson Marimba, Domingos PS e Diego Tavares, a sensação é de decepção. Esquálida, anêmica, a composição é um amontoado de clichês. O enredo Cordel Branco e Encarnado, dos carnavalescos Renato e Marcia Lage, pretende  mostrar o Nordeste a partir do que eles entendem por Literatura de Cordel.
Veja:



"Sou cabra da peste
Ô, minha ‘fia',
Eu vim de longe pro Salgueiro
Em trovas, errante, guardei
Rainhas e reis e até
Heroico bandoleiro
Na feira vi o meu reinado
Que surgia qual folhetim,
Mais um ‘cadim', vixe maria!
Os 12 do imperador
Que conquistou
O romanceiro popular
Viagem na barca,
A ave encantada
Amor que vence na lenda
Mistério pairando no ar
Cabra macho justiceiro
Virgulino é Lampião!
Salve, Antônio Conselheiro,
O profeta do Sertão
Vá de retro, sai assombração
Volta pra ilusão do Além
No repente do verso
O ‘bicho' perverso
Não pega ninguém
Ô, meu ‘padinho',
Venha me abençoar
Meu santo é forte,
Desse ‘cão' vai me apartar
Quero chegar ao céu
Num sonho divinal...
É carnaval! É carnaval!
Salgueiro, teus trovadores
São poetas da canção
Traz sua Côrte,
É dia de coroação
Não se ‘avexe', não
Salgueiro é amor
Que mora no peito
Com todo respeito,
O rei da folia
Eu sou o cordel
Branco e encarnado
‘Danado' pra versar
Na Academia".

Vá ao sítio da escola:  www.salgueiro.com.br


Atualização: abaixo, a lúcida crítica do poeta  e violeiro Fábio Sombra:


Os versos do samba-enredo são de uma boçalidade sem igual. Isto, logo após uma telenovela sobre cordel que só não tinha... cordel!!! Concordo com você, Marco: o gênero corre o risco de virar um pastiche de si mesmo como, aliás, aconteceu com o próprio carnaval. Felizmente, um grupo de autores e pesquisadores sérios insiste em remar contra esta corrente e segue produzindo e estudando textos de qualidade!