domingo, 30 de março de 2014

A xilogravura popular na literatura de cordel


Em 2007, o casamento da xilogravura com a literatura de cordel completou cem anos. Para celebrar a data, o pesquisador Jeová Franklin e a produtora cultural Ana Peigon organizaram, em Brasília, um evento que, na palestra de abertura, contou com a presença do mítico Ariano Suassuna. A convite de Arievaldo Viana, escrevi, em parceria com ele um folheto, Cem Anos da Xilogravura na Literatura de  Cordel, publicado pela editora Queima-Bucha, de Mossoró (RN).

O folheto, composto em setilhas, está abaixo reproduzido:

Brasília está promovendo
Uma festa de cultura
Que trata sobre os 100 anos
Da nossa Xilogravura,
Impressa sobre o papel
Dos folhetos de cordel,
Popular literatura.
O cordel é mais antigo
Vem do século dezenove
Com Leandro e Pirauá
Começou, ninguém reprove
Minha rima, pois agora
Eu ando Nordeste afora
E tiro a prova dos nove!
Outros pioneiros são
João Melchíades Ferreira,
Galdino da Silva Duda,
Um poeta de primeira,
Francisco Chagas Batista
Também foi um grande artista
Da cultura brasileira.
Mil novecentos e sete,
Conforme a história apura,
Foi o ano em que o cordel
Casou com a xilogravura.
Num “taco” bem pequenino
Gravaram Antônio Silvino
Numa tosca iluminura.
Antes disso, só havia
A chamada “capa cega”,
Com letras e arabescos.
Assim a história prega
E quem conhece a história,
Puxando pela memória,
Essa verdade não nega.


Agora eu quero falar
De um grande historiador:
É nosso Jeová Franklin,
Poeta e pesquisador,
Da cultura popular
E é quem pode atestar
Da gravura o seu valor.
Ana Peigon é a produtora
Dessa mega-exposição.
Ao lado de Jeová
Tem feito a divulgação
Desse evento grandioso
Que já se tornou famoso
De norte a sul da nação.
Ariano Suassuna,
Ícone da nossa cultura
Que encantou o Brasil
Com sua Literatura,
Também presente estará
Ao lado de Jeová
Na palestra de abertura.
Jeová é o detentor
De uma grande coleção
De gravuras populares,
A maior desta nação.
De Damásio a Walderêdo,
Ele conhece o enredo
Da gravura no sertão.
Tem obras de J. Borges,
João Pereira e Mestre Noza,
Tem xilos de Minelvino,
Que foi bom em verso e prosa,
Tem Dila, tem Abraão,
Eu, que vi tal coleção,
Atesto ser valiosa.
Tem de Marcelo Soares
Que é grande figura humana,
Xilos de Stênio Diniz,
Outra pessoa bacana.
De Zé Bernardo ele é neto,
Um grande artista, inquieto,
Cujo valor sempre emana.
Dessa nova geração
Cito Erivaldo primeiro,
Zé Lourenço, Francorli,
João Pedro do Juazeiro,
Tem Ciro, outro gravador,
Um grande batalhador
Lá no Rio de Janeiro.
João Pedro do Juazeiro
É artista singular,
Escreveu até um livro
Sobre a arte de gravar.
Nas cidades nordestinas,
Faz palestras, oficinas,
Com o intuito de ensinar.
Mas voltemos à gravura
Feita por anônimo artista
Que ilustra um folheto
Do grande Chagas Batista.
Mil novecentos e sete
É a data a que remete
O início dessa lista.
Tempos depois n'O Rebate,
Um jornal de Juazeiro,
Surge uma seção de trovas,
Onde vê-se um violeiro,
Talhado em xilogravura,
Arte sublime e tão pura,
Presente no mundo inteiro.
Na gravura popular,
Uma escola muito forte
É a que ainda produz
Em Juazeiro do Norte,
Desde o passado milênio,
Que teve e tem em Stênio,
O verdadeiro suporte.
Pernambuco também traz
Contribuição certeira
No traço de Manoel
Apolinário Pereira.
Outro artista genuíno
Foi Cirilo ou Severino
Gonçalves de Oliveira.
Da mesma escola saído,
Com talento e sem enfeite,
Seu traço característico
É pra muitos um deleite.
É um poeta afamado
E um xilógrafo respeitado
Nosso José Costa Leite.
Jerônimo, que hoje respira
Em São Paulo novos ares,
Com seu traço singular,
Está em vários lugares.
A sua arte se expande,
Pois ele é filho do grande
Poeta José soares.
Também Marcelo Soares,
Que é de Jerônimo irmão,
Desenvolveu um estilo,
Que já beira a perfeição.
E ele, além de gravador,
É também um trovador
Pleno de inspiração.
J.Borges de Bezerros
Possui traço primoroso,
É A Prostituta no Céu
O seu taco mais famoso.
Ele é poeta e editor,
Com quem o Pai Criador
Foi bastante generoso.
O João Antônio de Barros
É de Glória do Goitá.
Com o nome de Jota Barros
Ele se projetará
No verso e na ilustração
E também na Coleção
Famosa de Jeová.
Dila é outro gravador,
Que possui boa figura.
Trabalhando na borracha,
Criou a linogravura.
Lampião, Rei do Cangaço,
Está presente em seu traço
E em sua literatura.
Na Bahia, Minelvino,
Que foi poeta e editor,
Escreveu a sua história
Também como gravador.
Co’ inspiração soberana
Ele traçou na umburana
Fé, caridade e amor.
Também deve ser citado,
Da terra de Minelvino,
Franklin Cerqueira Maxado,
O Maxado Nordestino,
Trovador e ensaísta
Que optou por ser artista,
Forjando o próprio destino.
Em Alagoas, a terra
Dos guerreiros de Palmares,
Floresceu a arte do
Poeta Enéias Tavares,
Que escreveu sobre João Grilo
E no cordel e na xilo
Possui obras singulares.
Não esqueçamos Nireuda,
Gravadora potiguar,
O mestre Antônio Lucena,
Que era bom no versejar.
Assim, a xilogravura,
Com nomes desta estatura,
Têm muito a comemorar.
E José Martins dos Santos
Não pode ser olvidado:
Com O Soldado Francês
Ou O Baralho Sagrado,
Fez com traço harmonioso
Um tema muito famoso,
Já por Leandro versado.
Dizem que José Camelo,
Cordelista talentoso,
Também fez xilogravuras
Com um traço primoroso.
Escreveu, com maestria,
Coco Verde e Melancia
E O Pavão Misterioso.
A gravura popular
Está muito divulgada
Até no primeiro mundo
É exposta e pesquisada
Arte simples do sertão
Na Europa e no Japão
Se tornou admirada.
Brasília que sempre foi
Porto de muitas culturas
Vai expor em grande estilo
A coleção de gravuras
Que vale mais do que ouro,
Um verdadeiro tesouro
Para as gerações futuras.



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