Há cerca de um ano, em animada conversa com Braulio Tavares, durante a Bienal do Livro de São Paulo, surgiu a ideia de uma peleja virtual que, depois, seria publicada em folheto. Na Bienal do Ceará, retomamos a ideia e, agora, a sorte está lançada.
Abaixo, uma amostra do que já foi produzido até o momento.
A peleja pode ser acompanhada, em tempo real no Facebook:
SEXTILHAS
Marco Haurélio
Dos poetas que conheço,
Destaco Braulio Tavares,
Pelas canções instigantes,
Pelos versos singulares,
Que têm o cheiro dos épicos
E das gestas milenares.
Bráulio Tavares
Eu destaco, entre os meus pares,
o poeta Marco Haurélio
com o vocabulário vasto
do Houaiss ou do Aurélio,
e o verso que sobe aos ares
igual um balão de hélio.
o poeta Marco Haurélio
com o vocabulário vasto
do Houaiss ou do Aurélio,
e o verso que sobe aos ares
igual um balão de hélio.
MH
Já que começou o prélio,
Meu amigo menestrel,
Com sua verve e sabença,
De quem à arte é fiel,
Responda, sem titubeio,
O que vem a ser cordel?
BT
Inspiração a granel,
Contos de fadas, de reis,
Cangaceiros, cantadores,
Pelejas e ABCs,
Tudo isso num livrinho
De 11 por 16.
MH
Tem versos de amor cortês,
Forjados com muito enlevo;
Nas cantigas que compões,
E nos romances que escrevo,
Vejo o futuro agarrado
Nas barbas do Medievo.
BT
É livre igualmente o frevo;
É nosso como o baião;
É clássico como a valsa;
Popular como o rojão;
Tem música, tem poesia,
Verdade, imaginação.
MH
É o canto do sertão,
Das cidades e das serras.
A voz que clama por paz,
O grito que cessa as guerras,
Nordestino e brasileiro,
Com ecos de longes terras.
BT
Tu certamente não erras
ao dizer que essa poesia
não tem somente beleza:
ao dizer que essa poesia
não tem somente beleza:
tem coragem e alegria
e entre os dramas do mundo
nos serve de luz e guia.
e entre os dramas do mundo
nos serve de luz e guia.
MARTELO AGALOPADO
BT
Sou menino criado na cidade
Nunca tive uma infância na fazenda
O sertão para mim foi uma lenda
Que pairou sobre a minha mocidade.
Conheci o sertão, isto é verdade,
Assistindo o cinema brasileiro;
Glauber Rocha me deu esse roteiro
E eu que sou bom aluno fui atrás...
Os chocalhos são sinos matinais
Nas dolentes canções do bom vaqueiro.
MH
E eu nasci numa casa de adobão,
Com a frente pintada de amarelo;
Era ali minha choça e meu castelo,
O meu reino encantado do sertão.
Escutando as canções de Gonzagão,
Mais as joias do nosso romanceiro,
Na varanda ou ao pé do juazeiro,
Espargidas por ventos ancestrais –
E os chocalhos são sinos matinais
Nas dolentes canções do bom vaqueiro.
BT
Lembro o carro de boi gemendo tanto
sob o fogo do sol do Cariri,
sob o fogo do sol do Cariri,
Muitas férias passei brincando ali
onde o sol cauteriza um solo santo.
Mas a noite descia com seu manto,
agasalho tão bom e hospitaleiro...
Eu dormia, acordava bem ligeiro
a ouvir badaladas lá por trás:
os chocalhos são sinos matinais
nas dolentes canções do bom vaqueiro.
onde o sol cauteriza um solo santo.
Mas a noite descia com seu manto,
agasalho tão bom e hospitaleiro...
Eu dormia, acordava bem ligeiro
a ouvir badaladas lá por trás:
os chocalhos são sinos matinais
nas dolentes canções do bom vaqueiro.
MH
Desta imagem também jamais me esqueço:
Velho carro de boi com seu rangido:
Era alegre, era triste, era um
gemido,
Cantilena sem fim e sem começo,
E a parelha seguia sem tropeço
Ao comando bem firme do carreiro.
Se hoje o carro apodrece no terreiro,
O carreiro é que geme em tristes ais:
Os chocalhos são sinos matinais
Nas dolentes canções do bom vaqueiro.
GEMEDEIRA
MH
Geme o país
que nasceu
Da esperteza
de Cabral;
Geme o
pendão auriverde
Sob a triste
bacanal;
Geme o
índio, geme o negro
Ai! ai! ui!
ui!
Nessa terra
desigual.
BT
Todos gemem
por igual
Nestas redes
sociais,
Muro das
lamentações
Onde todos
são iguais:
Disputando com
vaidade
Ai ai, ui ui
Para ver
quem geme mais.
MH
Geme nos
canaviais
O
trabalhador exangue;
Geme o
home-caranguejo
Soterrado
sob o mangue;
Geme ainda o
operário
Ai! ai! ui!
ui!
Que morre cuspindo
sangue
BT
No meio do
bangue-bangue
Todo mundo
chora e treme,
Pelos becos
da favela
Passa bandido
e PM
Uns que
matam, uns que morrem
Ai ai, ui ui
Porém todo
mundo geme.
GALOPE À BEIRA-MAR
MH
Mudando de
estilo, por outras paragens,
Sigamos
agora com nossa peleja:
Da grimpas
dos Andes à chã sertaneja,
O verso
permite diversas viagens.
Sem Timothy
Leary a encher as bagagens,
Com fome e
com sede do eterno buscar,
Nas tábuas
de argila, nas mesas do bar,
Na longe
Cocanha ou na caixa-prego
Na luz
escondida nos olhos do cego,
Nos dez de
galope na beira do mar.
BT
A rima
deixada é a mesma que eu pego,
E ligo o
motor pra subir nas alturas,
Nas asas do
vento das literaturas
Eu vôo e eu
nado, mergulho e navego.
Meu verso é
composto de peças de Lego
É só ir
pegando e depois encaixar
Formando um
conjunto que dê pra cantar
Dizendo as
belezas do mundo da escrita
Em verso e
em prosa se escreve e recita
Cantando galope
na beira do mar.
MH
Na velha
Tebaida, me fiz eremita,
De lá alcei voo pra os mares do sul,
Vi Constantinopla virar Istambul,
E a sanha cruzada na terra ‘bendita’;
Vi Fitzcarraldo, com grande pepita,
Na verde floresta querer navegar,
Cantando uma loa para o rei Lear,
Pensando se estava tão longe ou tão perto.
Cansado de tudo, voltei ao deserto,
Sonhando que estava na beira do mar.
De lá alcei voo pra os mares do sul,
Vi Constantinopla virar Istambul,
E a sanha cruzada na terra ‘bendita’;
Vi Fitzcarraldo, com grande pepita,
Na verde floresta querer navegar,
Cantando uma loa para o rei Lear,
Pensando se estava tão longe ou tão perto.
Cansado de tudo, voltei ao deserto,
Sonhando que estava na beira do mar.
BT
Tornei-me
famoso por ter descoberto
os grandes tesouros de terras distantes;
lutei contra gregos, salvei os atlantes,
mostrei a Colombo o caminho mais certo.
Na Besta Fubana do tal Luís Berto
montei corajoso e me pus a voar,
cruzando o espaço na luz do luar
por entre uma nuvem de naves e drones
igual um dragão de um Game of Thrones
cantando galope na beira do mar.
os grandes tesouros de terras distantes;
lutei contra gregos, salvei os atlantes,
mostrei a Colombo o caminho mais certo.
Na Besta Fubana do tal Luís Berto
montei corajoso e me pus a voar,
cruzando o espaço na luz do luar
por entre uma nuvem de naves e drones
igual um dragão de um Game of Thrones
cantando galope na beira do mar.
MH
Na terra
tomada por fogo e ciclones,
Sorri o
tirano de juba acaju,
Sentindo no
rabo o tridente de Exu,
Enquanto se
estorce na guerra dos clones;
E sobre as
ruínas não há cicerones,
Nem sheiks
barbudos e nem lupanar.
A paz posta
a ferros, a guerra a gritar
E agentes
laranjas trazendo pavor,
Deixando
giestas na cova do amor
Nos dez de
galope na beira do mar.
BT
País que se
preza não quer salvador
Nação com
moral não precisa de heróis
Precisa de
votos, precisa de voz,
Lutando,
cantando, do jeito que fôr.
Na hora
difícil se sente o valor
Do quanto se
perde e não pode salvar,
A guerra é a
guerra, a terra é o lar,
O chão é do
povo, a vida é da gente,
O mundo é
cruel, mas a alma é valente
Nos dez de
galope na beira do mar.
NO TEMPO DE PAI TOMÁS
PRETO VELHO E PAI VICENTE
MH
Caro poeta,
Afine a sua viola,
Busque dentro da cachola
A resposta mais certeira.
Nossa bandeira
Do cordel e do repente
É ampla e é abrangente:
Muitas novidades traz
No tempo de Pai Tomás
Preto Velho e Pai Vicente.
BT
Tô acordando
Dum sono bom e profundo
Retornando para o mundo
Pra ver o que acontece;
E me aparece
Marco Haurélio pela frente
Com um “balai” de repente,
Com cara de quem quer mais
No tempo de Pai Tomás
Preto Velho e Pai Vicente.
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