segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Peleja de BRAULIO TAVARES com MARCO HAURÉLIO





Há cerca de um ano, em animada conversa com Braulio Tavares, durante a Bienal do Livro de São Paulo, surgiu a ideia de uma peleja virtual que, depois, seria publicada em folheto. Na Bienal do Ceará, retomamos a ideia e, agora, a sorte está lançada.

Abaixo, uma amostra do que já foi produzido até o momento.

A peleja pode ser acompanhada, em tempo real no Facebook:

SEXTILHAS

Marco Haurélio
Dos poetas que conheço,
Destaco Braulio Tavares,
Pelas canções instigantes,
Pelos versos singulares,
Que têm o cheiro dos épicos
E das gestas milenares.

Bráulio Tavares
Eu destaco, entre os meus pares,
o poeta Marco Haurélio
com o vocabulário vasto
do Houaiss ou do Aurélio,
e o verso que sobe aos ares
igual um balão de hélio.

MH
Já que começou o prélio,
Meu amigo menestrel,
Com sua verve e sabença,
De quem à arte é fiel,
Responda, sem titubeio,
O que vem a ser cordel?

BT
Inspiração a granel,
Contos de fadas, de reis,
Cangaceiros, cantadores,
Pelejas e ABCs,
Tudo isso num livrinho
De 11 por 16.

MH
Tem versos de amor cortês,
Forjados com muito enlevo;
Nas cantigas que compões,
E nos romances que escrevo,
Vejo o futuro agarrado
Nas barbas do Medievo.

BT
É livre igualmente o frevo;
É nosso como o baião;
É clássico como a valsa;
Popular como o rojão;
Tem música, tem poesia,
Verdade, imaginação.


MH
É o canto do sertão,
Das cidades e das serras.
A voz que clama por paz,
O grito que cessa as guerras,
Nordestino e brasileiro,
Com ecos de longes terras.

BT
Tu certamente não erras
ao dizer que essa poesia
não tem somente beleza:
tem coragem e alegria
e entre os dramas do mundo
nos serve de luz e guia.

MARTELO AGALOPADO

BT
Sou menino criado na cidade
Nunca tive uma infância na fazenda
O sertão para mim foi uma lenda
Que pairou sobre a minha mocidade.
Conheci o sertão, isto é verdade,
Assistindo o cinema brasileiro;
Glauber Rocha me deu esse roteiro
E eu que sou bom aluno fui atrás...
Os chocalhos são sinos matinais
Nas dolentes canções do bom vaqueiro.

MH
E eu nasci numa casa de adobão,
Com a frente pintada de amarelo;
Era ali minha choça e meu castelo,
O meu reino encantado do sertão.
Escutando as canções de Gonzagão,
Mais as joias do nosso romanceiro,
Na varanda ou ao pé do juazeiro,
Espargidas por ventos ancestrais –
E os chocalhos são sinos matinais
Nas dolentes canções do bom vaqueiro.

BT
Lembro o carro de boi gemendo tanto
sob o fogo do sol do Cariri,
Muitas férias passei brincando ali
onde o sol cauteriza um solo santo.
Mas a noite descia com seu manto,
agasalho tão bom e hospitaleiro...
Eu dormia, acordava bem ligeiro
a ouvir badaladas lá por trás:
os chocalhos são sinos matinais
nas dolentes canções do bom vaqueiro.

MH
Desta imagem também jamais me esqueço:
Velho carro de boi com seu rangido:
Era alegre, era triste, era um gemido,
Cantilena sem fim e sem começo,
E a parelha seguia sem tropeço
Ao comando bem firme do carreiro.
Se hoje o carro apodrece no terreiro,
O carreiro é que geme em tristes ais:
Os chocalhos são sinos matinais
Nas dolentes canções do bom vaqueiro.


GEMEDEIRA

MH
Geme o país que nasceu
Da esperteza de Cabral;
Geme o pendão auriverde
Sob a triste bacanal;
Geme o índio, geme o negro
Ai! ai! ui! ui!
Nessa terra desigual.

BT
Todos gemem por igual
Nestas redes sociais,
Muro das lamentações
Onde todos são iguais:
Disputando com vaidade
Ai ai, ui ui
Para ver quem geme mais.

MH
Geme nos canaviais
O trabalhador exangue;
Geme o home-caranguejo
Soterrado sob o mangue;
Geme ainda o operário
Ai! ai! ui! ui!
Que morre cuspindo sangue

BT
No meio do bangue-bangue
Todo mundo chora e treme,
Pelos becos da favela
Passa bandido e PM
Uns que matam, uns que morrem
Ai ai, ui ui
Porém todo mundo geme.


GALOPE À BEIRA-MAR

MH
Mudando de estilo, por outras paragens,
Sigamos agora com nossa peleja:
Da grimpas dos Andes à chã sertaneja,
O verso permite diversas viagens.
Sem Timothy Leary a encher as bagagens,
Com fome e com sede do eterno buscar,
Nas tábuas de argila, nas mesas do bar,
Na longe Cocanha ou na caixa-prego
Na luz escondida nos olhos do cego,
Nos dez de galope na beira do mar.

BT
A rima deixada é a mesma que eu pego,
E ligo o motor pra subir nas alturas,
Nas asas do vento das literaturas
Eu vôo e eu nado, mergulho e navego.
Meu verso é composto de peças de Lego
É só ir pegando e depois encaixar
Formando um conjunto que dê pra cantar
Dizendo as belezas do mundo da escrita
Em verso e em prosa se escreve e recita
Cantando galope na beira do mar.

MH
Na velha Tebaida, me fiz eremita,
De lá alcei voo pra os mares do sul,
Vi Constantinopla virar Istambul,
E a sanha cruzada na terra ‘bendita’;
Vi Fitzcarraldo, com grande pepita,
Na verde floresta querer navegar,
Cantando uma loa para o rei Lear,
Pensando se estava tão longe ou tão perto.
Cansado de tudo, voltei ao deserto,
Sonhando que estava na beira do mar.

BT
Tornei-me famoso por ter descoberto
os grandes tesouros de terras distantes;
lutei contra gregos, salvei os atlantes,
mostrei a Colombo o caminho mais certo.
Na Besta Fubana do tal Luís Berto
montei corajoso e me pus a voar,
cruzando o espaço na luz do luar
por entre uma nuvem de naves e drones
igual um dragão de um Game of Thrones
cantando galope na beira do mar.

MH
Na terra tomada por fogo e ciclones,
Sorri o tirano de juba acaju,
Sentindo no rabo o tridente de Exu,
Enquanto se estorce na guerra dos clones;
E sobre as ruínas não há cicerones,
Nem sheiks barbudos e nem lupanar.
A paz posta a ferros, a guerra a gritar
E agentes laranjas trazendo pavor,
Deixando giestas na cova do amor
Nos dez de galope na beira do mar.

BT
País que se preza não quer salvador
Nação com moral não precisa de heróis
Precisa de votos, precisa de voz,
Lutando, cantando, do jeito que fôr.
Na hora difícil se sente o valor
Do quanto se perde e não pode salvar,
A guerra é a guerra, a terra é o lar,
O chão é do povo, a vida é da gente,
O mundo é cruel, mas a alma é valente
Nos dez de galope na beira do mar.


NO TEMPO DE PAI TOMÁS
PRETO VELHO E PAI VICENTE

MH
Caro poeta,
Afine a sua viola,
Busque dentro da cachola
A resposta mais certeira.
Nossa bandeira
Do cordel e do repente
É ampla e é abrangente:
Muitas novidades traz
No tempo de Pai Tomás
Preto Velho e Pai Vicente.

BT
Tô acordando
Dum sono bom e profundo
Retornando para o mundo
Pra ver o que acontece;
E me aparece
Marco Haurélio pela frente
Com um “balai” de repente,
Com cara de quem quer mais
No tempo de Pai Tomás
Preto Velho e Pai Vicente.

Xilogravura de Maercio Siqueira.



Nenhum comentário: