quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Ode a um menestrel


A Elomar Figueira Mello, meu conterrâneo de Sudoeste baiano, o reino mítico do Sertão, com cercas de quiabentos e serras encantadas, dedico esta estrofe em martelo:

A grandeza ancestral de Elomar
Das barrancas do Rio Gavião
Mostra a voz do matuto do sertão
Através da cultura popular.
Esta voz muito tem a ensinar
A letrados de bom vocabulário;
Ela vem evolvida em relicário,
Evocando, em sonho, o Medievo.
Com certeza, é um canto bem longevo,
Envolvido na luz do imaginário.

Marco Haurélio

Os Três Conselhos Sagrados



Em 2005, me enfronhei pelo sertão da Bahia com o fito de recolher e anotar manifestações da oralidade, em especial o conto popular. Tive a sorte de conhecer, na cidade de Brumado, D. Maria Rosa Froes, de 89 anos, grande contadora de histórias. Foi a partir da versão narrada por ela que criei o presente romance. A atmosfera mística é minha maior contribuição ao enredo original. Ambientei a história em Bom Jesus dos Meira (antigo nome de Brumado) em homenagem à narradora. A primeira edição saiu com o selo da Fundação Cultural do Estado da Bahia (FUNCEB), que, até 2006, realizava um concurso de cordel de âmbito nacional. Os Três Conselhos Sagrados, inscrito no concurso, ficou em segundo lugar. A edição seguinte, com capa do poeta Arievaldo Viana, foi publicada pela Luzeiro.

No livro Contos e Fábulas do Nossa Folclore, que sairá em breve com o selo da Nova Alexandria, no qual reproduzo o conto em prosa, há uma pequena nota reveladora da origem e da área de difusão da história:

"De indiscutível origem oriental, Os Três Conselhos Sagrados é o mesmo conto que Sílvio Romero coligiu em Sergipe. O nosso exemplar assumiu ares de história real ao ser deslocado para o contexto da migração nordestina para o centro-sul, em especial, São Paulo. O conto em questão rompe em parte com a tradição fatalista, pois condiciona a felicidade ou o infortúnio às escolhas do protagonista. Com rara felicidade, Manoel D’Almeida Filho recriou em um romance de cordel, Os Três Conselhos da Sorte, a primeira parte do conto. O longo percurso feito a pé, da Bahia a São Paulo, pelo protagonista, resume a trajetória de muitos sampauleiros, como eram chamados, no alto sertão, os paus de arara. Teófilo Braga divulgou uma versão colhida no Porto. Gonçalo Fernandes Trancoso deu a lume Os três conselhos, de 1575, na obra basilar Histórias de Proveito e Exemplo. Na Sicília, Pitré anotou I Tri Rigordi nas Fiabe Novelle e raccontti popolari Siciliani. A história é encontrável, ainda, nas Gesta romanorum, no Conde Lucanor, de D. Juan Manoel, e no Patrañuelo (1566), de Timoneda.

Trecho do cordel:

No teatro da existência
Os dramas são encenados
E nós somos os autores
Dos palcos mais variados,
Como na pungente história
Dos Três Conselhos Sagrados.

Descreverei neste enredo
O drama de um retirante
Que deixou sua família
Devido à seca incessante,
Indo procurar recurso
Em uma terra distante.

Esta história aconteceu
Num tempo bem recuado,
Quando o Nordeste se achou
Pela seca maltratado,
O que forçou as pessoas
A migrar para outro estado.

Foi em Bom Jesus dos Meira,
No interior da Bahia,
Que o senhor Sebastião
Com sua esposa vivia –
A sua sobrevivência
Ele na roça colhia.

Mas aquele foi um ano
De um verão escabroso,
O Norte foi atingido
Por um calor horroroso,
E a Morte correu a terra,
Num furor impiedoso.

Justamente neste ano
De sofrimento e agonia,
Naquela pobre choupana
Um inocente nascia,
O primeiro do casal
Sebastião e Maria.

Eles, casados de pouco,
Vendo o amor coroado,
Ficaram muito felizes
Pelo filho ter chegado,
Mas Tião falou: - Agora
Devo trabalhar dobrado.

Neste ano plantou milho
Mandioca, andu, feijão,
Plantou arroz na baixada,
Esperando a produção,
Mas o Céu não mandou chuva –-
Perdeu toda plantação.

Do pouco gado que tinha
Não ficou viva uma rês,
Os bodes, qu’eram mais fortes,
Foram até o fim do mês,
Bastião, desesperado,
Quase perde a lucidez.

Tendo perdido a lavoura
E morrido a criação,
Ele chamou a mulher
E lhe disse: - Coração,
Vou-me embora pra São Paulo
Procurar colocação.

A mulher, toda chorosa,
Disse: - Meu bem, inda é cedo.
Você indo pra São Paulo,
Irá viver no degredo.
Lembre-se que nem levamos
À pia o nosso Alfredo.

Ele disse: - Minha prenda,
Nossa vida é uma estrada
E o Destino nos obriga
A fazer a caminhada –
No final, a recompensa
Aos que lutam é ofertada.

Mesmo aquele que não luta
Nunca arranjará recurso
E nós somos andarilhos
De um incerto percurso
E o rio chamado VIDA
Nunca interrompe seu curso.

A mulher inda lhe disse:
- Mas e se algum empecilho
Surgir nesta caminhada,
Obstruindo seu trilho,
Me deixando em viuvez
E na orfandade seu filho?

Porém nada o demoveu
E o homem se preparou,
Com uns trapos numa trouxa
No outro dia viajou.
Com o coração partido,
Sequer para trás olhou.

Fez todo percurso a pé,
Parando pra descansar,
Por caminhos tortuosos,
Recomeçava a andar,
Consumindo muito tempo
Para ao destino chegar.

(...)
_______________________________________________________________

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sábado, 20 de novembro de 2010

Cordel na sala de aula: relembrando 2010


Na unidade do Colégio Pentágono em Alphaville, recebidos pela professora Maria Filomena (Filó)

Um grande momento para mim, neste ano em que aonteceu tanta coisa boa, foi a visita às três unidades do colégio Pentágono, para falar de meu livro A Megera Domada em Cordel. Abaixo, o texto da Professora Liliani Araújo, assessora da área de Infoeducação, sobre as atividades realizadas em março de 2010. Estive na nobre companha do amigo Sebastião Marinho. Boas lembranças!

Megera Domada em Cordel – A adaptação de uma grande clássico trouxe Cultura Popular para os 8ºs anos do Pentágono

No primeiro encontro, os professores de infoeducação fizeram o lançamento do livro “Megera Domada em Cordel” por meio de uma aula bem dinâmica com imagens no Power Point, xilogravuras e folhetos de romances apresentando a Literatura de Cordel e a tradição da oralidade na Cultura popular. Os alunos puderam conhecer as diversas modalidades desta poesia: sextilhas, oitavas, martelo, mote em 10 e foram estimulados a escrever seus próprios cordéis. Por meio de Cd´s e vídeos, conheceram também o repente, a arte do improviso tão forte e comum aos cantadores de viola, uma tradição que se iniciou com os trovadores franceses e se perpetuou no Brasil.

No segundo encontro, os alunos foram preparados para receber o autor do livro, Marco Haurelio. Com a orientação dos professores e infoeducadores, elencaram perguntas instigantes que gostariam de fazer ao autor.

Para aprofundar ainda mais seus conhecimentos, assistiram ao documentário “Pé na França”, que nos mostra dois cantadores nordestinos indo buscar na França a origem da cantoria do Cordel. Concomitante a isso, as professoras de Língua Portuguesa trabalhavam em sala a obra.

Para finalizar, recebemos, nas três unidades do Colégio, o autor Marco Haurelio que nos contou sua trajetória como cordelista e Sebastião Marinho, cantador e repentista que nos trouxe sua cantoria. Os alunos puderam fazer suas perguntas, ler os cordéis que prepararam e experimentar a arte do improviso tocando (como aconteceu em Alphaville) e cantando (Perdizes e Morumbi). Todos se envolveram muito nesta atividade e terminamos com uma sessão de autógrafos.




8ºs anos de Alphaville assistem à apresentação do autor Marco Haurelio e até os alunos participam da cantoria




Em Perdizes, Felipe e Matheus (à esquerda) e Thiago (à direita) fazem perguntas ao autor.



Apresentação na unidade Morumbi (à esquerda) e Gustavo (à direita) conversa com Marco Haurelio


Liliani Araújo
Assessora da área de Infoeducaçãodo Colégio

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Uma vez a guerra



Com presença da cantora Ornela Jacobino no elenco, a peça Uma vez a guerra estreia amanhã no SESI - Vila das Mercês. O texto traz o medievo para a contemporaneidade ao tratar de um tema sempre atual: a guerra, que nasce da imcompreensão do outro, do preconceito e do medo.

Ornela é vocalista do grupo UnirVersos, liderado pelo poeta Costa Senna.

Mais informações: http://grupounirversos.blogspot.com/2010/11/teatro-uma-vez-guerra.html

Chico Salles na Pauliceia


O cantor e compositor paraibano radicado no Rio de Janeiro, Chico Salles, está em São Paulo divulgando seu novo CD O Bicho Pega (Som Livre). Oportunidade rara para conhecer um artista que vem construindo uma obra valiosa, tendo por base a musicalidade nordestina e o tempero do legítimo samba carioca.

Release


Masculina, o baião que abre O Bicho Pega, o quinto CD do compositor e poeta Chico Salles, e sua primeira parceria com Edu Krieger, já dá o mote: aí vem um álbum recheado de poesia popular e música pé-de-serra, com produção de José Milton, participações de Raimundo Fagner e Alfredo Del Penho e lançamento pela Som Livre.

Morando no Rio de Janeiro há quarenta anos, o paraibano Chico Salles tem sido uma espécie de embaixador dessa poesia nordestina. Como diz o escritor e poeta Bráulio Tavares no texto de apresentação no CD, “Esta vivência de décadas o integrou de tal forma ao ambiente carioca que a temática e a gíria carioca se infiltram nos seus versos; que algo do jeito sincopado de cantar já está presente na sua performance como intérprete e sambas autênticos já estão marcando presença no seu repertório, tanto em discos anteriores quanto neste, e prova disto são faixas como Não vá fazer ou Pedala Seleção”, ambas de sua autoria.

O Bicho Pega é o retrato desta mistura nordestina com a carioca, sem perder a dupla cidadania, pois Chico Salles nunca deixou as fronteiras, fazendo um trânsito livre e intenso entre estes dois universos e agregando a pura tradição do nordeste ao tempero carioca.

Cordelista e forrozeiro, conquistou muitos parceiros nestas andanças. A prova disto vem logo na capa com a xilogravura de Ciro Fernandes. Prossegue mostrando sua nova parceria com o jovem Edu Krieger (a já citada Masculina), as participações de Raimundo Fagner (Forró do Apagão, de Maciel Melo) e Alfredo Del Penho, apresentando canções do paraibano Jessier Quirino que tem um grandioso trabalho com a poesia matuta e sertaneja (Cumeeira de Aroeira Lá da Casa Grande), de Petrúcio Amorim (Forró do Sapateiro), do cordelista baiano Bule Bule (o côco que dá título do disco O Bicho Pega), do baiano João Bá e do já falecido cearense Klecius Albuquerque (Circo das Ilusões), do paulista Miltinho Edilberto (Como Alcançar Uma Estrela), uma releitura de Não vem Que Não tem, de José Orlando, originalmente gravada por Jackson do Pandeiro a quem é feita a homenagem, além de seus textos de cordel agora musicados como Bala Perdida (com Adelson Vianna), e Caminhos do Brasil (com João Lira), escrita na métrica do martelo agalopado.

Chico Salles tem história no universo nordestino, de onde é filho, e já lançou mais de 40 textos de cordel - graficamente muito bem produzidos e bem escritos -, além de atuar na área musical. Chico ocupa a cadeira número 10 da Academia Brasileira de Literatura de Cordel – ABLC, que originalmente pertencia a Catulo da Paixão Cearense. Lançou quatro discos: o último Tá no Sangue e no Suor foi em 2007, também com produção de José Milton. Os anteriores foram Confissões, gravado ao vivo em 2000, com produção de Alceu Maia; Nordestino Carioca saiu dois anos depois, produzido pelo maestro Chiquinho Chagas, com distribuição nas bancas de jornal do RJ e SP, e Forrozando, que lhe valeu a indicação ao Prêmio TIM em 2005, como melhor disco e melhor cantor, na categoria regional.

Hoje, Chico circula entre as melhores rodas de samba e forró do Rio de Janeiro e participa de vários projetos. Retornamos ao texto de Bráulio Tavares para descrever esta mistura. “Tanto em seus folhetos quanto em seus CDs ele se desdobra em versos e melodias que falam direto à nossa memória afetiva. São sextilhas e baiões circulando por aquele cordão umbilical invisível que nos liga à terra, e por onde passam, como numa fibra ótica de banda larguíssima, quantidades enormes de informação cultural, de memórias, de associações de idéias, de ritmos e de harmonias, de vocabulários e sotaques”.

Assessoria de Imprensa
Mary Debs / Alessandra Debs




CHICO SALLES e GRUPO CHABOCÃO EM SÃO PAULO

Sexta dia 19 de novembro:

TRAÇO DE UNIÃO
Com a participação de DEYSE DO BANJO
Local: Rua Claudionor Soares, 73 - LARGO DO BATATA.
Informações e reservas: (11) - 30318065
Hora: 22:00h
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Sábado dia 20 de novembro:


FESTA DO BODE com BINGO e SHOW

Local: Rua Conde dos Arcos
Próximo ao Bar das Marrecas
FERRAZÓPOLIS - SÃO BERNARDO do CAMPO - SP.
Aberto ao Público com entrada franca
Horário: Das 17:00h às 24:00h

Show com CHICO SALLES e GRUPO CHABOCÃO - A partir das 22:00h

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Domingo dia 21 de novembro:

REMELEXO

Local: Rua Ferreira de Araújo, 1076 - Pinheiros (Próximo ao Sesc Pinheiros)

Informações e reservas: (11) - 3034-0212

Hora: 22:00h.

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Antecipadamente agradecemos a divulgação e a possível presença.
Obrigado,
CHABOCÃO EVENTOS

Mais informações: www.chicosalles.com.br

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Catálogo de Cordel da Tupynanquim



C A T Á L O G O

LANÇAMENTOS ESPECIAIS:

‘COLEÇÃO HERÓIS E REBELDES DAS AMÉRICAS’ (Belíssima caixa contendo
12 folhetos com biografias de grandes vultos que construíram a nossa história)
Preço: R$ 22,00

‘O PROFESSOR SABE-TUDO E AS RESPOSTAS DE JOÃO GRILO’ (Livro infanto-juvenil em cordel com 80 páginas coloridas)
Preço R$: 26,00

“O PAVÃO MISTERIOSO – Cordel em Quadrinhos (Álbum de luxo, capa dura, com o maior clássico do cordel de todos os tempos totalmente adaptado para os quadrinhos. Imperdível!!!)
Preço: R$ 26,00

Livro “ACORDA CORDEL NA SALA DE AULA – A Literatura Popular como Ferramenta Auxiliar na Educação
Preço: .R$ 30,00



FOLHETOS DE R$ 1,50

A alma de Sinzenando
A.B.C. a Patativa do Assaré
A bunda da Chica Boa
Abraão Lincoln, o inesquecível presidente dos Estados Unidos
A incrível história da princesa serpente
A intriga do gato com o cachorro por um palito de fósforo
A história de João da Peste
A história de Joseph M. Luyten – O criador da Folkmídia
A história de holandês que inventou a Folkmídia
A Lei Maria da Penha em folheto de cordel
Cinco anos do São Paulo capital Nordeste
Discussão de Seu Lunga com um corno
Galopando o Cavalo Pensamento
;O amor em poesia
O batizado do gato
O cordelista na China
O homem dos ratos
O homem que foi preso porquê peidou na igreja
O pássaro de diamantes e a princesa que enxergava com o coração (LANÇAMENTO!!!)
O sonho de Davi ou o tesouro da felicidade
O flautista mágico
Peleja de dois poetas sobre a transposição do Rio São Francisco
Quatro anos do ‘São Paulo Capital Nordeste’
Suplício de um drogado

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FOLHETOS DE R$ 2,00

A bela adormecida do bosque
A chegada de Lampião no inferno/ Debate de Lampião com S. Pedro
A diferença do rico para o pobre
Aladim e a lâmpada maravilhosa
Aracne, uma aranha bordadeira
A botija encantada ou o preguiçoso afortunado
A estátua do Jorge
Aldemir Martins, o gênio das Ingazeiras
A história da Imperatriz Porcina
A Gramática em Cordel
A genial trajetória dos Demônios da Garoa
A história de João e o Pé de Feijão
A história de Ali Babá e os quarenta ladrões
A história do rei que tudo tinha e nada possuía
A incrível história de Emiliano Zapata e a Revolução Mexicana
A insustentável peleja de Zé Maria com Calixtão de Guerra
A maldição das sandálias de Abu Kasen
A malassombrada peleja de Pedro Tatu com o lobisomem
A moça que virou cachorra porque foi ao baile funk
A morte do Padre Vieira e o discurso do jumento
Anita Garibaldi, heroína em dois continentes
Antônio Conselheiro, o revolucionário de Canudos
A volta de Camões e as novas perguntas do rei
Artimanhas de Pedro Malazartes e o urubu adivinhão
As aventuras de Davi e o gigante Golias
As ninfas da cachoeira ou o castigo da ambição
As presepadas de João Grilo
As bravuras de Justino pelo amor de Terezinha
A lenda da Iara
A pega do Boi Bargado no sertão jaguaribano
A professora indecente e as respostas de João Grilo
As palhaçadas de Zé Matuto
As proezas de SEU LUNGA, o rei da ignorância
A quenga e o delegado
A lenda macabra do pescador encantado
A mala do folheteiro
A ousadia da onça e o poder da formiga
A miragem do destino
A rainha dos pavões
As três folhas da serpente
A verdadeira história da Páscoa
Cafute e Pena de Prata (Conto de Rachel de Queiroz em Cordel)
Che Guevara, nas trilhas da liberdade
Dragão do Mar – Herói da Terra da Luz
Discussão dum crente com um boiola
Encontro com a consciência
Entre marido e mulher a Lei Maria da Penha mete a colher
Grande debate de Satanás com o Pai Eterno
Gentileza – O profeta da brasilidade
História de Helena e a Guerra de Tróia
História do Valente Vilela
Iniciação sexual na zona rural
Leandro Gomes de Barros, o pioneiro da Literatura de Cordel
Luiz Gonzaga, a trajetória de um rei
Martin Luther King, símbolo de liberdade e igualdade das américas
Meia noite no cabaré
Medicina Alternativa, a cura através das plantas
Midas, o rei das orelhas de jumento
O cantor e a meretriz ou a puta que comia fotos do ídolo
O desastre com o avião da TAM
O encontro de João Grilo com a Donzela Teodora
O feitiço de Àquila
O jangadeiro voador
O ladrão de Bagdá
O mandarim e a borboleta
O professor Sabe-Tudo e as respostas de João Grilo
O príncipe sortudo e a sapinha encantada
;O rapaz que virou barrão ou o porco endiabrado
O rico ganancioso e o pobre abestalhado
O porco endiabrado no programa do Ratinho
Os 3 cavalos encantados do Reino Monte de Ouro
Os grande encontro de Camões com Salomão
Uma tragédia em família ou pai que matou o filho
O poder que a bunda tem
O divórcio da cachorra
O caçador que sofreu nas garras do caipora
O cordelista na França
O linguajar cearense
O tremendo duelo de Quirino Beiçola com Tomaz Tribuzana
O testamento do cachorro
O conde mendigo e a princesa orgulhosa
O curioso caso do cangaceiro mais fedorento do sertão
O valentão do mundo
O judeu e a samaritana
O marco cibernético do Reino dos Três Irmãos
O mistério da pedra encantada
O morto que foi chifrado e voltou pra se vingar
Os martírios de Eugênia e o perverso Barbazul
Os direitos humanos em cordel
Padre Ibiapina, o apóstolo do Nordeste
Peleja de Azulão com Bezerra do Ceará
Peleja da Cachorra Cantadeira com o Macaco Embolador
Peleja de José Costa Leite com Antônio Klévisson Viana
Peleja de Manoel Riachão com o Diabo
Pergunta Idiota, tolerância zero
Romance de Bernardo e Sara ou a promessa dos dois irmãos
Romance de João Cambadinho e a Princesa do Reino de Mira-Mar
A mulher dos olhos de fogo
Salomão e Sulamita – O cântico erótico do amor
Ser criança é... Brincadeiras de ontem e de hoje
Seu André, o professor de Seu Lunga
Seu Lunga – O rei do mau-humor
Simón Bolívar – O Libertador da América
Tiradentes, um sonho de liberdade
Trapalhadas de Pedro Malazartes passando a perna no rei
Visita de Lampião a Juazeiro
Visita de Satanás a um baile funk

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ROMANCES DE CORDEL DE R$ 3,00


A Batalha de Oliveiros com Ferrabraz
A Botânica em cordel
Adalberto e Rosicler ou A Fera do Pantanal
A Donzela Graciosa e o amor de Salviano
A Donzela Teodora
A Deusa e o Caçador
A peleja de Bráulio Tavares com Antônio Klévisson Viana
A princesa que não ria e as presepadas de João Tolo
A Princesa da Pedra Fina
A Princesa Rosamunda ou a morte do gigante
À sombra da forca – Um destino em duas vidas
As aventuras do guerrilheiro Che Guevara
As bravuras de Donnar – O matador de dragões
A fantástica história do Capitão de Ladrões
A grande peleja virtual de Klévisson Viana e Doizinho Quental
A herança do sultão ou os 3 anéis da discórdia
A história completa da Santa Virgem Maria
A história da heroína Olga Benário
A Órfã Abandonada
Armando e Rosa ou Coco Verde e Melancia
A verdadeira história do Ceará Sporting Club
A vida de Pedro Cem
A vida de Zé Côco do Riachão
A vitória de Renato e o amor de Mariana
As aventuras de Robin Hood
As palhaçadas de Biu
As origens do Dia do Trabalhador e os Mártires de Chicago
Bamam e Gercina ou o Príncipe e a Fada
Branca de Neve e o Soldado Guerreiro
Chico Mendes , o defensor da floresta
Do Pelourinho a Los Angeles – Mestre Pastinha brilhou
Dadá e a morte de Corisco
História de Aprígio Coutinho e Neuza
História de São José em poesia popular
História de Roberto do Diabo
História de Rosa Alice e o velho Gondim
História de João de Calais
Índia Necy
João da Viola e a Princesa Interesseira
Joãozinho Sonhador no Reino Serra Quebrada
Juvenal e o dragão
Juliana e Juvenal ou o louco do cemitério
Julieta e Custódio ou o cavalinho voador
Lágrimas de uma sentenciada ou o triunfo do amor de Tibério e Maribel
Luiz Carlos Prestes, o Cavaleiro da Esperança
Minhas Poesias de Amor
Nascimento, vida e morte do cangaceiro Zé Baiano
Nas garras do gavião
O alucinante namoro do menestrel e a lagartixa
O boi dos chifres de ouro e o vaqueiro das 3 virtudes
O cachorro encantado ou a sorte da megera
O cachorro dos mortos
O caçador João Mendonça e o tribunal da floresta
O cangaceiro do futuro e o jumento espacial
O casamento do besouro Rola-Bosta com a Barata Francesa
O crime das 3 maçãs
O encontro de São Raimundo Nonato com Getúlio Vargas
O fazendeiro mendigo e a cabocla encalhada
;O herói da floresta e a princesa encantada
O justiceiro do Norte
O mercador e o gênio
O papagaio que fez até Camões de otário (LANÇAMENTO)
O príncipe da Pérsia e o cavalo encantado
O príncipe João Sem Rumo no Reino das Pedras Verdes
O príncipe do Oriente e o pássaro misterioso
O príncipe Natan e o cavalo mandingueiro
O príncipe Oscar e a rainha das águas
O príncipe que fez de tudo para mudar o destino
O príncipe Roldão no leão de ouro
O romance de Auriflora e o novo pavão misterioso
Os martírios de Genoveva
O Manifesto Comunista em Cordel
O verdadeiro romance da carta do marginal
O último macho do mundo
Pedrinho e Julinha
Proezas de João Grilo
Romance do Pavão Misterioso
Rodolfo e Leocádia ou a força do sangue
Rogério & Adriana no Reino de Macabul
Tangidos pelo destino
Téo Azevedo, o cantor de Alto Belo
Versos de amor
Violação – A trágica história de Renato e Maria
Vinte anos da partida de Luiz Gonzaga, o Rei do Baião
Zumbi dos Palmares – Herói Negro do Brasil


LIVRETOS GRANDES (COR NA CAPA)

PREÇO UNITÁRIO: R$ 5,00

Antônio Conselheiro e a Fantástica Epopéia de Canudos
A Rola do Mané Chico Buliu no Bicho de Rosa – Cinco cordéis de humor e putaria
João Paulo II – Nascimento, Vida e Morte
Lampião... Herói ou Bandido?
Passeio na beira-mar
Seu Lunga, o velho mais zangado do mundo

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COLEÇÕES DE CORDÉIS (RARIDADES)

Caixa As Mil e Uma Noites em cordel ( R$ 20,00)
Caixa 140 anos de Leandro Gomes de Barros ( R$ 30,00)
Caixa “A Botija Encantada” – 12 romances de Klévisson Viana (R$ 25,00)
Caixa Clássicos Tupynanquim (R$ 25,00)
Caixa 2° Concurso Paulista de Literatura de Cordel (R$ 25,00)

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LIVROS DE HUMORISMO

Admirável Riso Novo (R$ 5,00)

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LIVROS EM QUADRINHOS

Lampião... Era o Cavalo do Tempo Atrás da Besta da Vida (R$ 30,00)

LANÇAMENTOS!!!

Os miseráveis
Adaptação do clássico universal de Victor Hugo para a linguagem da Literatura de Cordel, formato 16x23cm, capa colorida, totalmente ilustrado e impresso no papel reciclato
(R$ 25,00)

O corcunda de Notre-Dame
Adaptação do clássico universal de Victor Hugo para a linguagem da Literatura de Cordel, formato 16x23cm, capa colorida, totalmente ilustrado e impresso no papel reciclato
(R$ 25,00)

As aventuras de Dom Quixote em versos de cordel
Adaptação do romance clássico universal para a linguagem da Literatura de Cordel, formato grande, capa colorida e totalmente ilustrado (R$ 22,00)

Sertão Menino
Literatura Infantil em Cordel, formato 23x23cm, totalmente ilustrado e colorido, impresso em cartão supremo e couchê respectivamente R$ 22,00

A festa no céu
Literatura Infantil em Cordel, formato 23x23cm, totalmente ilustrado e colorido, impresso em cartão supremo e couchê respectivamente R$ 22,00

O pulo do gato
Literatura Infantil em Cordel, formato 23x23cm, totalmente ilustrado e colorido, impresso em cartão supremo e couchê respectivamente R$ 22,00


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IMPORTANTE!

Encomenda simples:
Faça o depósito equivalente ao valor do seu pedido mais o acrescimo de 10% do valor do mesmo para despesas postais e envie o seu comprovante pelo correio ou para o E-mail: tupynanquim_editora@ibest.com.br

Fone: (85) 3217 2891 (Klévisson Viana)

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Divulgado o Prêmio Mais Cultura de Literatura de Cordel



Foi divulgado hoje, 12 de novembro, o resultado do Prêmio Mais Cultura de Literatura de Cordel - Edição 2010. A iniciativa do Ministério da Cultura homenageou, nesta primeira edição, Patativa do Assaré.

Entre os habilitados estão o poeta Arievaldo Viana, com sua biografia de Leandro Gomes de Barros, Aderaldo Luciano, com sua tese Literatura de Cordel: Visão e Revisão, e inúmeros criadores do Cordel, como os já consagrados Klévisson Viana, Rouxinol do Rinaré, Varneci Nascimento, João Gomes de Sá, Janduhy Dantas, Mestre Azulão, Luiz Gonzaga de Lima, Moreira de Acopiara, Gonçalo Ferreira da Silva, Antônio Barreto e José Honório da Silva.

Em São Paulo, ainda foram habilitados os poetas Pedro Monteiro, Josué Gonçalves, Cleusa Santo, Otávio Maia, além de Gregório Nicoló, diretor da editora Luzeiro. Outro selecionado foi o jornalista Assis Ângelo, autor de um livro sobre o repentista Pedro Bandeira.

De minha autoria foi selecionado o clássico em cordel O Conde de Monte Cristo, inscrito pela editora Nova Alexandria, da qual sou coordenador editorial.

A alvíssara me chegou por meio do pesquisador paraibano José Paulo Ribeiro, também ele premiado num projeto que será extensão de suas atividades em prol do cordel em seu estado.

Nota: Para pesquisar no Diário Oficial da união, é só clicar no link http://portal.in.gov.br/in e inserir as palavras-chave "Mais Cultura", "Cordel" ou "Patativa do Assaré".

Do total de habilitados, 617, serão selecionadas 200 iniciativas.
Mais: http://www.cultura.gov.br/site/2010/11/12/minc-divulga-habilitados-do-premio-mais-cultura-de-literatura-de-cordel/

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Chagas Baptista, autor de Leandro


Os amigos Leandro Gomes de Barros e Francisco das Chagas Batista, pioneiros da Literatura de Cordel brasileira.


Interessante artigo da professora Vilma Mota Quintela, publicado na revista Cultura Crítica, da APROPUC-SP, de 09.03.09


Para nos aproximarmos de um autor, nada melhor do que conhecermos sua obra. Posto isso, inicio este artigo comentando a antologia Cantadores e poetas populares, publicada em 1929, na capital da Paraíba, sob o selo da Popular Editora, de propriedade de Francisco das Chagas Batista. Nesse trabalho, o autor-editor paraibano apresenta o que considera "a melhor parte" da poesia popular nordestina, relacionando, em notas breves, os cantadores e poetas de ofício mais representativos dessa produção, do seu ponto de vista. Essa foi, sem dúvida, a primeira obra com intenções eruditas a destacar a presença de Leandro Gomes de Barros no contexto da produção poética nordestina, tendo como pressuposto a autonomia da literatura de cordel em relação à cantoria2. É, de fato, significativo que esse livro tenha sido, inteiramente, produzido no âmbito do cordel, tendo como autor e editor um de seus principais representantes no período. Tomando como ponto de partida a fala inicial ao leitor, cumpre aqui destacar essa obra como representativa de uma postura em certa medida diferenciada em relação ao conjunto do que havia sido produzido sobre o assunto até então:

Notando que os illustres escriptores Drs. Gustavo Barroso, Leonardo Motta e Rodrigues de Carvalho deixaram de incluir nos seus livros: "Ao som da viola ", " Cantadores", "Violeiros do Norte" e "Cancioneiro do Norte", a maior e melhor parte dos versos dos poetas populares do nordeste, vivos e já fallecidos, venho reuni-los nesta Anthologia Regional, no intuito de prestar uma justa homenagem a poetas obscuros e desconhecidos dos nossos estudiosos historiadores nordestinos (Chagas Baptista, 1929: 1).

Como é possível observar, explicita-se, no enunciado, o gesto do autor no sentido de ampliar e reorientar a produção sobre o assunto, introduzindo esses poetas, para usar sua expressão, obscuros. Com isso, por um lado, Chagas Batista inscreve o seu posicionamento nesse campo, já ocupado pelas autoridades por ele mencionadas dentre outras, surgidas no contexto do projeto etnográfico que ganhou expressão, no Brasil, a partir da segunda metade do século XIX, no sentido da definição do que seria a cultura popular nacional3. Contudo, ao se colocar nesse campo, Chagas Batista põe em prática valores e escolhas que nem sempre se coadunam com as posições aí dominantes. Ele fala, não como as autoridades que nomeia, mas, antes, como um autodidata inserido na cultura que ele também concebe como regional e, como denota o título da antologia, popular. Mais que uma contribuição ao folclore, tal investida representa o posicionamento do autor pela institucionalização, ou seja, pelo reconhecimento dessa cultura no âmbito das práticas consideradas cultas. Ao configurar um diálogo com a tríade que antecedeu o escritor Câmara Cascudo na pesquisa, no registro e no estudo da cantoria no século XX, o autor autodenominado popular transita no campo da erudição, apropriando-se dos meios para instaurar uma postura, de certa forma, concorrente. A propósito, para melhor representar o lugar de onde Chagas Baptista enuncia e o contexto que possibilitou seu posicionamento como autor, vale abrir um parêntese para uma breve nota biográfica.

Sobre Chagas Batista, o primeiro dado a se ressaltar é, sem dúvida, a sua descendência de uma família de cantadores e glosadores que fizeram fama na Serra do Teixeira, situada no Planalto da Borborema, zona sertaneja paraibana, onde surgiu uma geração que ajudou a definir o código da cantoria clássica. A propósito, era neto do glosador Agostinho Nunes da Costa (1797-1858), e sobrinho dos cantadores Ugolino (1832-1895) e Nicandro Nunes da Costa (1828-1918), ícones dessa geração, que ele acabou por consagrar em seu livro. Vale lembrar: a literatura de cordel, que se define, do ponto de vista lingüístico, como um gênero de discurso narrativo em versos, deve suas formas poéticas básicas à cantoria, o que, por um lado, justifica sua grande penetração no sertão e arredores, onde se localizou, durante muito tempo, seu público mais coeso. Cumpre, também, dizer que, sem exceção, todos os autores que participaram do momento de formação do sistema editorial do cordel descendem desse meio cultural, de onde, também, vieram, em grande parte, os autores responsáveis por sua continuidade no decorrer do século XX. É o caso, por exemplo, de Leandro Gomes de Barros, que se mudou para o Teixeira por volta dos quinze anos de idade, onde permaneceu até migrar, provavelmente, no final da década de 1880, para a comercial Vitória de Santo Antão, indo, em seguida, para Jaboatão e, finalmente, para Recife4.
Entre os poetas que, de alguma forma, podem ser incluídos nesse momento inicial, que corresponde, mais ou menos, às duas primeiras décadas do século XX, há de se mencionar, ainda, Silvino Pirauá de Lima (1848-1913), José Galdino da Silva Duda (1866-1931), ambos contemporâneos da geração do Teixeira, e Melchíades Ferreira da Silva (1869-1933), que tem em comum com Silvino e José Duda o fato de ter se destacado, em seu tempo, como cantador5. No caso, os vínculos do poeta de ofício com essa cultura oral condiciona a padronização de um código discursivo diferenciado, que vem a atender, especialmente, as injunções da comunicação verbal nesse âmbito, tornando possível a formação de um público consumidor também diferenciado no campo da produção cultural impressa local.

Além da origem cultural desses poetas, há outro fato que torna possível Chagas Batista e seus contemporâneos existirem como autores, qual seja, a migração6. Se, por um lado, as relações desses poetas sertanejos com a cantoria são decisivas ao cordel (na medida em que lhes faculta a seleção de um código poético com ela identificado, que possibilita a assimilação do cordel nesse meio), sua migração da zona sertaneja agrária para os centros locais da produção cultural impressa, por outro lado, apresenta-se como condição de possibilidade da transformação desses poetas em autores. Quanto a isso, temos, no caso específico de Chagas Batista, que, em 1900, com dezoito anos, o autor transmigra do Teixeira para Campina Grande, uma das principais cidades da Paraíba, do ponto de vista econômico. Lá ou em Alagoa Grande (onde trabalhou como operário na rede ferroviária que se estabelecia entre o litoral e o sertão, como uma conseqüência do desenvolvimento comercial observado em determinadas áreas nordestinas), teria chegado a freqüentar a escola noturna. Em 1902, começou a viver como ambulante, editando e fazendo circular o primeiro folheto de sua autoria, Saudades do Sertão. Fez, também, já nessa época, incursões no campo da poesia lírica, tendo produzido poemas esparsos, alguns publicados em jornais. Já em 1905, um artigo veiculado no jornal O Combate registra o contato do autor com pessoas ligadas ao metiê do publicismo paraibano:

Escolhi para assunto destas linhas um pobre sertanejo que, não há muito tempo, andou aqui em diversos lugares do interior, vendendo uns folhetinhos de versos que apenas traduziam a força de vontade de seu espírito de moço desejoso de instruir-se e ávido de um futuro mais sorridente e feliz. Pobre agricultor, nascido nas encostas da Borborema, sem nenhum conhecimento literário, sem meios que o melhor recomendassem, escrevia contudo algumas quadrinhas que, embora sem arte e incorretas, deixavam transparecer pálidos reflexos de sua inteligência prometedora. Deixou a vida campestre e procurou a capital do seu Estado, onde publicou alguns fascículos de poesias, tratando porém de assuntos tão baixos que ninguém deu-lhe a mínima importância, a não ser um moço generoso de nosso meio que (...) deu-lhe uns brados de avante. Vagando pelas ruas, rogando a um e a outro que lhe comprassem seus versos, para adquirir recursos para estudar, disse-me ele, nenhum apoio encontrou em sua terra, o pobre boêmio (Chagas Batista, 1977: 2)

Esse artigo, assinado por "M. M", permite flagrar um acontecimento relacionado ao fenômeno da migração, que foi decisivo para a instituição dessa categoria de autor, ou seja, o encontro do poeta sertanejo com a imprensa. Penetrar nos domínios da imprensa popular, pulsante na capital e em certas cidades do interior da Paraíba e de Pernambuco, foi, no caso de Chagas Batista, condição de possibilidade do advento do autor por dois motivos principais. Em primeiro lugar, o acesso às tipografias (multiplicadas com a popularização do jornal observada na segunda metade do século XIX, nessas cidades) possibilitou a publicação de sua primeira obra, com a venda da qual ele pôde iniciar sua bem sucedida trajetória. Em segundo lugar, o diálogo com a imprensa permitiu sua integração, ainda que marginalmente, ao debate cultural que se instituía na esfera citadina, e, com isso, dar um passo a favor da legitimação de seu ofício.

Visto por outro ângulo, o excerto acima permite vislumbrar a tensão produzida, nesse encontro, entre duas forças culturais concorrentes. Essa tensão se expressa, sem rodeios, no ponto de vista do articulista, que se coloca como o homem culto, isto é, para recorrer a uma expressão gramsciana, no campo da atividade cultural hegemônica, ao apresentar o poeta sertanejo como seu outro cultural. Refere-se a ele como uma ave rara no contexto arcaico que definia o sertão agrário no período em que se formou a literatura de cordel no Brasil. É o ponto de vista do citadino, numa época em que o fenômeno da seca e a estagnação econômica no extremo interior fizeram partir milhares de sertanejos, seja em direção ao Norte, para atender à demanda dos seringais, seja em direção ao Sudeste, onde se concentrava o desenvolvimento industrial. A esse respeito, a propósito, em estudo sobre o cangaceirismo e o fanatismo nesse período, Rui Facó informa como a cultura dos seringais na Amazônia, tornando-se o principal pólo de atração dos sertanejos nordestinos, representou um fator importante para o desenvolvimento comercial do alto Nordeste:

Embora pareça paradoxal, a ruptura da estagnação se inicia com o êxodo em massa de imigrantes nordestinos, inicialmente para a Amazônia, mais tarde para São Paulo. É o fenômeno mais progressista que ocorre nos sertões do Nordeste nesse período.
E, mais adiante:

A Amazônia continuava a atrair como miragem os pobres sertanejos nordestinos, que iam morrer de febre em suas florestas exuberantes, nos seringais que alimentavam nababos a estadear riquezas em Manaus, Belém, nas capitais da Europa... Em 1900, abandonam o Ceará 40 000 vítimas da seca. Ainda em 1915, de cerca de 40 mil emigrantes que saem pelo porto de Fortaleza, enquanto 8 500 tomam o destino do Sul, 30 mil se dirigem pelo caminho habitual, o do Norte.

No entanto, Chagas Batista e seus colegas de ofício em atividade no momento da formação do cordel pertenceram a uma minoria, entre esses sertanejos, que tomou outra direção. Não de todo desprovidos de recursos financeiros e de letramento, eles migraram para os centros comerciais nordestinos mais próximos, encontrando, na edição de folhetos, um modo de sobrevivência e, em alguns casos, de ascensão social. Em contrapartida, o investimento desses poetas no mercado do folheto possibilitou a constituição de um público de leitores na zona sertaneja oralizada, bem como o surgimento de novos valores, necessários à sua continuidade. Unidos por um código poético estrito, herdado da cantoria, esse público de leitores-ouvintes deu sustentação a um mercado literário que se expandiu, a partir daí, em direção ao Norte e, posteriormente, ao Sul, seguindo o movimento migratório.

De qualquer modo, esse artigo sobre o jovem Chagas Batista representa muito bem as condições de luta sob as quais se instituiu esse ofício, expressando o olhar de uma certa elite romântica, a um só tempo condescendente e distanciado, sobre o poeta sertanejo. A esse respeito, vale destacar a idéia do poeta como uma espécie de missionário sobrevivente da cena de pobreza e desolação que traduzia o sertão na perspectiva do citadino: "(...) o pobre sertanejo era ávido de saber, queria conhecer os segredos da ciência literária, era um sonhador, um iludido enfim, cria no futuro! Por isso o melhor qualificativo que teve em nossa terra foi o de louco". O articulista, que não ousa revelar o nome, embora pareça não compreender bem o contexto poético em que se inscreve o poeta sertanejo, não perde a oportunidade de enaltecê-lo como um pobre porta-voz da civilização no cenário do atraso.
De certa maneira, essa aparição de Chagas Batista na imprensa não deixa de servir como um indicativo do posicionamento que viria a caracterizar sua presença nesse momento de formação do cordel. De fato, em sua época, talvez tenha sido ele o autor de folhetos que esteve mais próximo do debate com certa elite letrada, estabelecida nas cidades nordestinas mais progressistas da época, a exemplo da Paraíba (hoje, João Pessoa) e do Recife. O diálogo explícito que manteve com a cultura letrada fica aliás patente em sua antologia, acima referida, e nas obras líricas e paródicas por ele publicadas, expressando-se, também, em sua produção de folhetos7. No contexto da literatura de cordel, aparecem como obras de sua autoria, por exemplo, A escrava Isaura, uma versão em sextilhas do romance homônimo; O triunfo do amor, versão baseada no clássico Quo Vadis?; A história de Esmeraldina ou Traição, Vingança e Perdão, baseadas em narrativa do Decameron. Importa ressaltar, quanto ao Cantadores e poetas populares do Nordeste, publicado em 1929, que esse livro, praticamente desconhecido até, mais ou menos, a década de 1960, tem, no mínimo, o mérito de introduzir Leandro Gomes de Barros no cenário da cultura brasileira, definindo-o como paradigma de um sistema literário à parte. Ao assim situá-lo, Chagas Batista o introduz em um contexto cultural bem mais amplo que o espaço restrito do folheto nordestino na época em questão. Eis o julgamento do autor, a respeito de seu contemporâneo:

Foi fundador da popular literatura poética de cordel no Nordeste. Escreveu cerca de mil folhetos de versos populares, tendo tirado dos mesmos mais de dez mil edições. Leandro manejava a sua veia poética com fantástica facilidade. Foi um escriptor que viveu exclusivamente de sua penna - caso raro no Brasil (Chagas Baptista, 1929: 114).

Esse gesto resulta significativo, não apenas por ter sido o antologista o primeiro a apontar Leandro como fundador em um contexto cultural, por ele, denominado popular, o que é digno de nota, mas, sobretudo, pelo estatuto concedido ao poeta, que ele reconhece como escritor. Desse modo, ao atribuir a Leandro o status do fundador de um sistema literário específico, o qual ele, como autor-editor, também, integra, Chagas Batista inscreve o lugar do cordel no âmbito da cultura impressa brasileira. Até então, de uma maneira geral, os folcloristas que informaram sobre a cantoria ainda não tinham assinalado o cordel como um sistema editorial à parte. Sílvio Romero, que falou da existência de uma literatura de cordel presente em várias partes do Brasil no penúltimo decênio do século XIX, refere-se, provavelmente, à literatura importada da Europa, já nessa época, reeditada no Brasil e vendida, no mercado ambulante, junto com outras modalidades de produção impressa destinada ao vulgo8. No geral, no conjunto do que se publicou sobre a produção poética sertaneja entre o começo do século XX, quando o sistema editorial do cordel está em formação, e a década de 1930, quando ele já havia se consolidado no Nordeste, poucas vezes essa literatura ambulante foi identificada como um sistema cultural específico. O quase desconhecimento em torno do cordel explicita-se nos estudos dos folcloristas que primeiro trataram da cantoria no âmbito da erudição. Por exemplo, Leonardo Mota, em Cantadores, de 19219, toma um texto publicado em folheto por Leandro Gomes de Barros em 191010, onde se representa a disputa poética entre Francisco Romano e Inácio da Catingueira, que teria ocorrido em 187411, como a reprodução de uma peleja autêntica12. Câmara Cascudo, em Vaqueiros e cantadores, já em 1939, distingue a produção do cordel como uma modalidade da poesia sertaneja, sem, no entanto, atentar para a especificidade do seu campo de produção.

Ao marcar, em seu livro, a posição de Leandro como fundador da "popular literatura poética de cordel", Chagas Batista, de certa forma, vem a autenticar o estatuto do autor de folhetos no âmbito do discurso letrado. Note-se não é delineado o ponto de vista do folclorista que registra um fenômeno regional, mas a perspectiva de alguém que dispõe, criticamente, o lugar de Leandro tendo em vista um contexto cultural mais amplo. O seu julgamento sobre o colega falecido ressalta sua postura como editor. Há de se chamar a atenção ao aspecto privilegiado por Chagas Batista para traduzir a importância do biografado. É Leandro, antes de mais nada, alguém que "viveu exclusivamente de sua pena", isto é, literalmente, um profissional das letras, egresso da zona da cantoria. É precisamente esse dado que importa ressaltar, no que se refere à antologia Cantadores e poetas populares, de Chagas Batista. Nesse sentido, podemos dizer que essa obra se situa num lugar estratégico, na medida em que representa um marco da consciência do cordel como um ofício poético, do qual viveram poetas como Francisco das Chagas Batista, que começou a sua empresa editora com a venda ambulante de folhetos. Além disso, cumpre assinalar: o autor dá conta dessa atividade como algo que constitui um mercado, no caso, um mercado literário específico. Como o autor representa, em sua antologia, o sistema que ajudou a instituir, podemos distinguir Francisco das Chagas Batista como "Poeta Fundador".


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1-O título deste artigo é uma referência ao texto " Pierre Ménard, Autor do Quixote" de jorge Luis Borges
2-A "cantoria" pode ser definida como um sistema poético musical, desenvolvido no sertão nordestino e caracterizado por um código poético estrito. Não se sabe, exatamente, a partir de quando a cantoria teve lugar, no Brasil, mas, provavelmente, ela se apresenta, em dado momento, como uma prática associada ao processo de colonização do extremo interior, possibilitado pela cultura do gado. A cantoria clássica se dá a partir da reunião de dois ou mais cantadores, acompanhados da viola sertaneja ou, mais remotamente, da rabeca. Ocupando lugar secundário na apresentação, o acompanhamento musical serve, basicamente, como suporte aos enunciados poéticos, que se destacam na performance. Nesse sentido, a cantoria compreende tanto a apresentação solada de um cantador que, diante de uma platéia de ouvintes, canta ou recita poemas narrativos de domínio público ou não, quanto o desafio, em parte, improvisado, entre dois cantadores que disputam entre si a hegemonia verbal sobre o outro. Aponta-se a segunda metade do século XIX como uma época de ouro para a cantoria. Em seu trabalho, C. Batista destaca um elenco de cantadores da região sertaneja paraibana que ajudaram a definir o padrão poético da cantoria clássica. A propósito, para um estudo sobre a cantoria e suas formas poéticas, ver, entre outras referências, BATISTA, 1982, CAMARA CASCUDO, 1986, e RAMALHO, 2000 e 2001.

3- Nesse contexto, há de se destacar a presença polêmica de Sílvio Romero, que, influenciado pelo positivismo, procurou, pela primeira vez, submeter a matéria a uma abordagem científica. A propósito, ver Leite, 1992, e Mota, 1994.

4- A respeito da origem social de Leandro, informa-se que o poeta viveu, até os 15 anos de idade, em Pombal (PB), onde foi adotado por uma família de pequenos proprietários, da qual descende o Padre Vicente Xavier de Farias, que gozou de certa influência social no Teixeira, onde exerceu longos anos de sacerdócio. A propósito, informa Pedro Nunes Filho: "Leandro Gomes de Barros nasceu em 1865, na Fazenda Melancia, município de Pombal, Estado da Paraíba. A Fazenda pertencia aos trisavós do autor desta nota, Manuel Xavier de Farias e sua mulher Dona Antônia Xavier de Farias, por quem Leandro foi criado. Manuel e Antônia eram pais do Padre Vicente Xavier de Farias, que nasceu na mesma fazenda, em 1822. Ordenado sacerdote, aos 24 anos de idade mudou-se para o Teixeira em 1846, tendo permanecido ali durante 61 anos. Faleceu em 13 de dezembro de 1907, com 85 anos de idade. Em 1880, os pais do Pe Vicente mudaram-se para o Teixeira, vindo em sua companhia o grande e talentoso Leandro, aos 15 anos de idade." In: http://www.secrel.com.br/jpoesia/@pn01.html. Sobre Leandro, ver, entre outras referências, Chagas Baptista, 1929; Wanderley, 1954; Batista, 1971; Almeida e Alves Sobrinho, 1978; e Terra, 1983.

5- Dentre os autores que se destacaram no contexto do cordel nordestino nessa fase, poderíamos apontar como uma exceção o poeta Pacífico Pacato Cordeiro Manso (1865-1931), que, ao contrário dos demais, todos originários do sertão paraibano, nasceu em Quebrangulo, localidade situada na zona agreste alagoana voltada à produção agropecuária. Esse autor começou a publicar seus folhetos em Maceió. Seus pais, no entanto, emigraram do sertão de Pernambuco, também reconhecido por Cordeiro Manso como terra natal. É o que declara o poeta em Um brado de Pernambuco: qual das pátrias, a minha pátria (Museu do Folclore): "Meus paes são pernambucanos / Do brejo de Madre Deus, / Onde a família Cordeiro, / Tem alli seus apogeus, / Aquelles bons sertanejos / todos são parentes meus." Entre os poetas em atividade nas duas primeiras décadas do século XX, Cordeiro Manso se destaca, basicamente, como um poeta das causas urbanas locais. Escreveu diversos casos de crimes hediondos que se tornaram manchetes nos jornais da capital, como, por exemplo, O Crime de Fernão Velho, que traz na capa três pequenos clichês, representando as personagens envolvidas no caso, indicadas por legendas. Na seqüência, surge o folheto A Morte de Marieta, a prisão do assassino, que noticia a versão mais completa do crime, dada pelos jornais. Já em O tiroteio de Maceió - Zé Povo e os Maltinos, de 1912, folheto que compõe uma série de quatro histórias de inspiração republicana, exacerba-se a veia humorística popular do autor, que narra as cenas grotescas do ataque do bando de Zé Povo aos Maltinos, representantes da oligarquia alagoana na capital. Começa o poeta: "Permittam, caros leitores / Em quatro livros iguaes,/ Descrever alguns successos / Da terra dos Marechaes; / Também de Pedro Paulino / um dos nomes immortaes." Sobre o autor, ver Almeida e Sobrinho, op. cit..

6- Remeto-me, aqui, à noção de autor como uma instituição social decorrente das injunções relacionadas aos modos modernos de produção impressa. Nesse sentido, a função-autor, problematizada por M. Foucault, relaciona-se ao sistema jurídico institucional que condiciona o universo dos discursos, pressupondo um estado de direito que reconhece a responsabilidade penal do autor e o conceito de propriedade literária. A propósito, ver Foucault, 1992, Chartier, 1994, e Edelman, 2004.

7- Leitor autodidata, Chagas Batista teve, como fonte de erudição, além de obras da literatura ambulante de origem portuguesa, publicadas, no Brasil, pela Laemmert, do Rio de Janeiro, desde 1840 (ver Cascudo, 1984), obras que se inserem no contexto da produção literária oficial. Fizeram parte do seu cânon pessoal os autores José de Alencar, Castro Alves, Olavo Bilac, Guerra Junqueiro, Humberto de Campos, Augusto dos Anjos, Tobias Barreto, Rodrigues de Carvalho e Victor Hugo, entre outros. Foi, também, leitor habitual dos jornais de Pernambuco e da Paraíba; das revistas O malho, A careta, Revista da semana e Cosmos, do Rio de Janeiro, e da Revista do Brasil, de São Paulo. Editor livreiro, Chagas Batista vendia em seu estabelecimento comercial livros do folhetinista francês Ponson du Terrail, e dos clássicos portugueses Eça de Queiroz, Camilo Castelo Branco e Alexandre Herculano, conforme consta em catálogo da sua livraria. A propósito, ver Terra, op. cit..

8- Ver Romero, 1977 (primeira edição: 1888) e Cascudo, 1984 (primeira edição: 1939). No que diz respeito a publicações populares (isto é, livros brochados, em formato reduzido, a preço acessível, publicados em grandes tiragens, para atender a uma população imersa na oralidade, em geral, pouco letrada), há de se reportar ao caso das edições Quaresma. No cenário da Belle époque carioca, dominado por editoras estrangeiras, tais como a Laemmert, a Garnier e a Francisco Alves, que atendiam, sobretudo, a uma elite cultural e econômica, o brasileiro Pedro Quaresma se estabeleceu, no final da década de 1870, difundindo, a partir do Rio de Janeiro, em várias partes do Brasil, incluindo o Nordeste, uma literatura, em boa parte, feita por encomenda para atender a esse público, então, emergente. O advento dessa editora, em funcionamento até meados do século XX, não deixa de ser um produto do fenômeno da popularização do impresso, no Brasil, entre as últimas décadas do século XIX e as primeiras décadas do século seguinte, ao qual, necessariamente, o advento do cordel está relacionado. Ver Brito Broca, 1994. Ver, também, Oliveira, 2002.

9- Ver Mota, 1987.

10- Ver Batista, 1929.

11- Ver Otaviano, 1949.

12- Já em 1903, no Cancioneiro do Norte, Rodrigues de Carvalho havia comentado essa mesma disputa, com base em uma outra versão, feita por Hugolino Nunes da Costa (1832-1895), um cantador de Santa Luzia do Sabugi, que se destacou, em seu meio, como um dos intelectuais de seu tempo. A propósito, Hugolino, que conhecia bem o Novo e o Velho Testamento, o Dicionário da Fábula, o Manual Enciclopédico, entre outros, foi, na época, um dos divulgadores do "traslado". Veículo de divulgação da poesia produzida pelos cantadores e glosadores letrados, pelo menos, desde as úlimas décadas do século XVIII, o traslado era um caderno contendo obras manuscritas, que trazia o dorso preso a um laço de fita e, na capa, em letras góticas, o título da obra a ser apresentada. Ver Lima, 1978. Sobre Hugolino ou Ugolino, ver Baptista, 1929, e Cascudo, 1984.


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Vilma Mota Quintela Doutora em Letras, com tese defendida sobre a Literatura de Cordel brasileira, tema ao qual se dedica desde o início da década de 1990.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Caravana do Cordel: dois anos de histórias e de História


A Caravana do Cordel completará, oficialmente, no próximo dia 7 de novembro, dois anos de atividades exitosas em São Paulo e em outros estados desse Brasil imenso.

A primeira atividade deu-se em Guarulhos, quando, nos dias 7 e 8 de novembro de 2008, a Biblioteca Monteiro Lobato foi palco do salão da Literatura de Cordel. No início de 2009, a Caravana recepcionou o poeta pernambucano Wladimir Cazé, que veio a São Paulo lançar o folheto ABC do Carnaval.

O grande salto, porém, se deu com o início das atividades regulares no Espaço Cineclubista da Rua Augusta, em julho de 2010. Outros palcos importantes da capital e de cidades paulistas também foram ocupados, com destaque para o auditório da APEOESP e a Biblioteca Belmonte.

Embora não dê para falar de todas as atividades, ressaltamos a presença da Caravana em várias cidades, como São Bernardo do Campo, Mauá, Várzea Paulista, Uberlândia (MG), Guaxupé (MG), Paranapiacaba (Santo André-SP), Sorocaba, Santo André etc.

O grupo original tem sete fundadores: João Gomes de Sá, Varneci Nascimento, Pedro Monteiro, Costa Senna, Cacá Lopes, Nando Poeta e Marco Haurélio. Hoje, o movimento, ampliado, reúne, ainda, além de cordelistas, folcloristas, músicos, pesquisadores, entusiastas e admiradores da Literatura de Cordel, a grande contribuição do Nordeste à Cultura Brasileira.

Abaixo, o primeiro texto na internet a citar a Caravana do Cordel, publicado no fotolog Cordelista João Gomes de Sá em 02/02/2009.

CARAVANA DO CORDEL
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A CARAVANA DO CORDEL reúne poetas cordelistas, xilogravadores, repentistas, além de outros artistas ligados às ricas manifestações da cultura espontânea brasileira.
A CARAVANA DO CORDEL visa ampliar o contato com a poesia popular de São Paulo, que vem da mesma raiz do cordel nordestino e deu origem a tantas duplas fantásticas, como TONICO E TINOCO, LIU E LÉO, TIÃO CARREIRO E PARDINHO, e a compositores como João Pacífico, Teddy Vieira, Adauto Santos e Renato Teixeira.

A CARAVANA DO CORDEL também se aproxima do teatro popular, com monólogos e autos religiosos e profanos, teatro de bonecos e declamação de folhetos e de trovas populares.

A CARAVANA DO CORDEL também promoverá rodas de contação de histórias com contos hauridos da tradição popular.

Saiba mais sobre a CARAVANA DO CORDEL, através dos contatos:

João Gomes de Sá
Fone: (11) 8276-1592
e-mail jgsacordel@ig.com.br

Conheça outros projetos na área de cultura popular.

É um mundo de cordel para todo mundo!


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ATIVIDADES DO EVENTO COMEMORATIVO:

O Memorial da América Latina, os Caravaneiros, a Editora Luzeiro e a Editora Nova Alexandria têm o prazer de convidá-lo para a Festa de Aniversário de 2 anos da Caravana do Cordel

O Mundo do Cordel para todo Mundo

Caravana do Cordel

Programação

Exposição de Xilogravura . Feira de Literatura de Cordel . Apresentação de Livros e Folhetos de Cordel . Recital Literomusical - Presença de Poetas Cordelistas, Músicos e Declamadores . Participação Especial da "DISSIDENTES BIG BAND" Guarulhos / SP e QUARTETO DE CORDAS/SP

Fundação Memorial da América Latina
Av. Auro Soares de Moura Andrade, 664 - Metrô Barra Funda / São Paulo / SP - www.memorial.sp.gov.br
Informações: jgsarcordel@ig.com.br / varnecicordel@yahoo.com.br
13 de Novembro de 2010, sábado, das 15h30 às 19h30

Biblioteca Latino-Americana Victor Civita
Memorial da América Latina / portão 6

Cordel na TV Escola



Avisa-nos Arievaldo Viana em seu fotolog Acorda Cordel.

O programa SALTO PARA O FUTURO, da TV ESCOLA (MEC) exibiu, entre 18 e 22 de outubro uma série sobre LITERATURA DE CORDEL que teve como consultor o poeta ARIEVALDO VIANA, também um dos entrevistados do programa. Foram feitas tomadas no estado do Ceará, especialmente em CARIDADE, onde o projeto ACORDA CORDEL encontra-se de vento em popa. Destaques do programa foram: Gilmar de Carvalho (professor, pesquisador e escritor), Ednardo (cantor e compositor cearense, autor de PAVÃO MISTERIOSO), Braulio Tavares (compositor, poeta e escritor), Marco Haurelio (poeta, folclorista e escritor), Aderaldo Luciano (professor e pesquisador), Zé Maria de Fortaleza (cantador e cordelista) e o professor Jorge, do Rio de Janeiro, que trabalha com cordel há mais de três anos.

No sítio do Programa, ainda, há um texto de minha autoria (clique AQUI para ler) sobre a abrangente temática da Literatura de Cordel, além de artigos de Arievaldo Viana, consultor da série.

Abaixo, trecho do meu artigo:

Temáticas e características da literatura de cordel


1.TEMÁTICA

A Literatura de cordel é a poesia popular, herdeira do romanceiro tradicional, e, em linhas gerais, da literatura oral (em especial dos contos populares, com predominância dos contos de encantamento ou maravilhosos). É a literatura que reaproveita temas da tradição oral, com raízes no trovadorismo medieval lusitano, continuadora das canções de gesta, mas também espelho social de seu tempo. Com esta última finalidade, a Literatura de Cordel receberá o qualificativo – verdadeiro, porém reducionista – de “jornal do povo”. O cordelista, como hoje é conhecido o poeta de bancada, é parente do menestrel errante da Idade Média, que, por sua vez, descende do rapsodo grego.

No Nordeste brasileiro,
Conservados na memória,
Romances, contos e xácaras
Lembravam a antiga glória
De Portugal e da Espanha,
De que nos fala a História.

Era esse o tempo das gestas
Dos cavaleiros andantes,
E essa poesia rude
Dos bardos itinerantes
Foi trazida para a América
No bojo dos navegantes.

Essa poesia foi
Cantada pelos jograis,
Celebrando os grandes feitos
Dos heróis medievais,
E também falando sobre
Romances sentimentais.

E quando começa o ciclo
Das Grandes Navegações
De Portugal e da Espanha,
As antigas tradições
Vão se acomodando aos poucos
Pelas novas possessões.

(TRECHO DO FOLHETO: O CORDEL; SEUS VALORES,
SUA HISTÓRIA, de Marco Haurélio e João Gomes de Sá.)

O Cordel abarca os mais variados temas, desde as histórias jocosas, como Proezas de João Grilo e O Cavalo que Defecava Dinheiro, até dramas históricos, como Joana D’Arc, Heroína da França e Antônio Conselheiro e a Guerra de Canudos. A Literatura de cordel, desde o seu início, no final do século XIX, se abeberou de fontes como o romanceiro tradicional. Desta fonte da tradição oral nasceram histórias, como A Triste Sorte de Jovelina (de Sátiro Xavier Brandão) e Brás e Anália (de Joaquim Batista de Sena). Os dois cordéis contam basicamente a mesma história: um casal separado pela condição social adversa: a moça rica é impedida pelo pai de namorar o rapaz pobre. Combinam uma fuga, mas a moça termina sendo morta por uma onça. Há um romance de autor desconhecido chamado José e Maria (recolhido em Parapiranga, Bahia, pelo folclorista sergipano Jackson da Silva Lima, e em Igaporã, Bahia, pelo cordelista Marco
Haurélio) que traz o embrião desta história. Abaixo a versão recolhida por Marco Haurélio:

Idade de doze anos,
José e Maria amava,
Mas o velho pai da moça
Com isso não concordava.
Nas cartas que escrevia,
Com tristeza, ela falava:
“Acho melhor nós fugir”.
Outro jeito não achava.

Combinaram de encontrar
Na mata do Tombador.
Maria saiu de casa,
A má sorte acompanhou.
Bem na volta do caminho,
Onde a onça lhe pegou.
Maria tinha um xale branco.
No lugar ele ficou.

José conheceu o xale,
Pela mata foi entrando.
A trança do seu cabelo
Na picada foi achando.
Chegou na beira do rio,
Do outro lado foi nadando.
Chegou na gruta da pedra.
A onça tava esperando.

José viu Maria morta.
Pela gruta ele entrou.
Arrancou de seu punhal,
Com a fera ele lutou.
Arrancou de seu revólver,
Ela lhe desafiou.

Foi passando um caçador,
José inda pôde falar:
“Dê lembrança a minha família,
Que não posso mais voltar.
Maria morreu por mim,
Por ela vou me acabar.
Aqui dentro destas pedras
Três almas cá vão ficar.
Nós não casamos na terra,
Mas no céu vamos morar”.


(...)