quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Lula Prestigia Crispiniano Neto em sua Posse na ABLC


Nesta sexta-feira, dia 1º de agosto, o presidente Luís Inácio Lula da Silva esteve no Rio de Janeiro e marcou presença na posse de Crispiniano Neto como acadêmico da Academia Brasileira de Literatura de Cordel (ABLC). Lula recebeu também uma homenagem da instituição, sendo empossado como acadêmico de honra.
Nascido em Santo Antonio do Salto da Onça, Crispiniano Neto é o terceiro poeta norte-rio-grandense a se tornar imortal. Ele ocupará a cadeira 26, que tem como patrono outro potiguar, o antropólogo e historiador Luís da Câmara Cascudo, considerado o maior folclorista brasileiro e o que mais escreveu sobre as origens da literatura de cordel.

(...)


Na ocasião, Crispiniano lançou o livro Lula na Literatura de Cordel. A posse ainda foi marcada por um empolgante discurso, composto em martelo agalopado:

01
Sento hoje à Cadeira 26
Desta nossa querida Academia,
Que é Palácio amoroso da poesia,
E é Parnaso das rimas da altivez;
Esta nossa Pasárgada sem ter reis;
Nossa Arcádia de paz e inspiração...
É o Cordel das quebradas do Sertão,
A quebrar prepotência e preconceito,
Granjeando o status do respeito
Da vivíssima cultura da nação!

02
Esta posse na ABLC
Traz a nós a grandeza da verdade,
Os sabores da imortalidade,
Uma luz que somente a alma vê,
É um texto sagrado que só lê
Quem conhece o valor dos pequeninos;
Quem mergulha no âmago dos destinos
Destes salmos de luz, de luta e louvo,
Dos saberes sagrados do meu povo,
Da cultura imortal dos nordestinos.

03
Tem pra nós as delícias dos desejos
De carinho, pão, paz, felicidade,
Fé, justiça e poder com igualdade,
Chuvas férteis nos solos sertanejos.
Ela chega com a mágica dos bafejos
De mil musas bordando cada verso,
Traz um bálsamo que cura o que é perverso,
Traz as bênçãos de Deus no que concerne
Em provar que Cordel está no cerne
Da cultura geral do universo!


04
Foi Homero um poeta como nós,
Cego, pobre, sem ouro e sem escola,
Com uma lira servindo de viola,
Esculpindo a história em verso e voz;
Dom Diniz foi um Rei, séculos após,
Mas seus versos também são cordelistas;
Gil Vicente em seus textos quinhentistas,
Calderón de La Barca e Shakespeare
Já beberam na fonte antes de ouvir
A poética dos nossos repentistas;

05
Os aedos, os bardos, rapsodos;
Os salmistas das velhas escrituras,
Os ‘medajs’ das árabes terras duras,
Trovadores, arautos visigodos,
Menestréis e jograis, portanto, todos
Que rimaram e que rimam amor com dor,
Como o Partido Alto, o aboiador,
O funkeiro, o rapper e o vaneirão;
Uns raízes, outros frutos, todos são
Primos, tios e irmãos do cantador!

06
Os folhetos chegaram em caravelas
E espalharam-se em casas da colônia
Rio, Pampas, Gerais e Amazônia,
Frágeis folhas dobradas, rimas belas;
Reis, princesas, romances e novelas;
Entremez, auto, peça; heróis, vilões,
Monstros, sábios e príncipes valentões
Lendas, medos, milagres e Cruzadas,
Fantasias pras vilas habitadas,
Luz rasgando as veredas dos Sertões!


07
Grandes nomes que nos antecederam
Criadores da arte do repente
Ugolino e Nicandro foram à frente
Com o pai, Agostinho, aprenderam;
As violas trinaram e apareceram
O Romano da Serra do Teixeira,
Pirauá abraçou tocha e bandeira,
Com Romano e Germano da Lagoa
Em romance, martelo, quadra e loa
Alma, vida e repente floresceram.

08
Em seguida passaram a imprimir
Os folhetos, vendendo-os pelas feiras
Com histórias fantásticas, verdadeiras,
Reportagens, pelejas ou pra rir,
E o Nordeste passou a progredir
Na cadência da verve psicordélica
Entre a dor da criança mais famélica
E os amores valentes e românticos
Os poetas soltaram tantos cânticos
Nas batalhas do amor, guerra antibélica.

09
Pedro Cem, Coco Verde Melancia,
Oliveiros batendo Ferrabrás,
O romance do Herói João de Calais,
Pedro Quengo e o Valente Zé Garcia,
Genoveva e João Besta com a jia;
João Grilo e o Romance do Pavão
Viva São Saruê e Gonzagão;
Discussão entre crente e cachaceiro
Padre Cícero Romão do Juazeiro,
Cabeleira, Silvino e Lampião.




10
Grandes nomes deixaram cabedal
De poemas por todos os confins
Grande Leandro Gomes, João Martins,
Um Delarme e João Firmino Cabral,
Um Firmino Teixeira do Amaral.
Milanês, Zé Pacheco e Zé Galdino,
Teodoro Ferraz e Minelvino,
Costa Leite, Bernardo e Pirauá
E outros tantos que eu sei que ninguém há
De esquecer no meu filme nordestino.

11
Hoje temos Francisco de Assis,
Luis Campos, Saldanha, Abaeté
Azulão, Rouxinol do Rinaré
Marco Haurélio, Moreira e Zé Luiz;
Tem o Klévisson Viana e tem Concriz,
Tem um Marcus Lucenna, sempre à frente,
Ribamar, Kidelmyr, gente da gente,
Tem Antonio Francisco e Arievaldo
E nos dando a certeza do respaldo
Nosso mestre Gonçalo, presidente.

12
E a cadeira que estamos assumindo
É de Câmara Cascudo, a 26,
Grande cérebro, formado para as leis,
Que o Direito acabou não assumindo,
Virou mestre versátil, fértil, infindo,
Dos viveres do povo verdadeiro,
Demonstrando a partir do seu terreiro
Que o saber mais sublime é o do povão
E avisou para o mundo com razão
Que “o melhor do Brasil é o brasileiro!”


13
Cascudinho estudou todos valores
Do folclore da gente brasileira:
As jangadas, as redes, a peixeira,
Os vaqueiros e os grandes cantadores;
Cangaceiros, saberes e sabores,
Os costumes, os hábitos, a etnia,
Suas danças, seus gestos, a poesia,
Os aboios, as rezas e as toadas,
Suas lendas, seus ritos, vaquejadas
Os provérbios, a verve e a cantoria.

14
Foi Cascudo um gigante entre os gigantes,
Um titã de saber muito profundo
Mostrou nossa terrinha para o mundo
Registrou pra o futuro as coisas d’antes;
Foi pra nós um Platão ou um Cervantes,
Junto a Átila e Liedo Maranhão,
E a um Mário de Andrade de outro chão
A Barroso, Romero e Peregrino
E Ariano mostrando o nordestino
Como herói das vivências da nação!

15
É por eles, poetas e escritores,
Que hoje nossa fiel literatura
É a força mais viva da Cultura
Do Brasil, na canção dos bons cantores;
Vem nos traços e tintas dos pintores;
Hoje inspira a melhor dramaturgia;
No cinema, TV, pedagogia,
Hoje em marketing e campanha educativa
Encontramos pulsando em forma viva
Coco, mote, cordel e cantoria.

16
Finalmente aproveito pra lançar
Nosso Lula nos versos de Cordel,
Ele que hoje inspira o menestrel
A cantar junto à luta popular.
Que levou o poeta a se inspirar
Com as batalhas nascidas do povão
Quando as massas enfrentam o tubarão,
Quando o povo oprimido vai à luta,
Derrubando o poder da força bruta
E mudando a história da nação.

17
É o Lula que veio em pau–de-arara
Do flagelo da seca pra o Palácio;
O “da Silva”, “o Luís”, o “Lula Inácio”,
Que perante as barreiras nunca para.
Esse cara sem pose, é ele o cara,
Que é a cara tão cara de milhões;
Que não treme perante as opressões,
Que jamais se dobrou à ditadura.
É dureza dosada com ternura
É o vento que arrasta as multidões.

18
É o Lula tranqüilo e tão sincero
Que jamais aprendeu a disfarçar;
Que é povão no sorrir e no chorar;
No falar, no agir, no ser... E “é vero”,
Que esse é Lula Prouni e Fome Zero,
É SAMU, Biodiesel e é Pré-Sal,
Mais Cultura, que é PAC Cultural,
Território que tem cidadania
Luz pra todos, Pronaf e, todo dia,
Mais Progresso na vida nacional.


19
É o Lula que enfrenta a inflação,
Que enquadrou um tal de FMI
Que acabou com a ALCA, e por aqui,
Gera emprego em carteira pra nação
Que combate a cruel corrupção
Se punindo político e até banqueiro,
Num Brasil mais fiel, mais altaneiro.
Que, com ele no leme do comando,
Todo dia se escuta alguém falando
“Tenho orgulho de ser um brasileiro!”

20
Finalmente agradeço à Petrobras
Que ajudou-me a chegar onde ora estou
E os que são mais poetas como eu sou
Ela nunca deixou nenhum pra trás.
E ao governo do Rio, que é demais,
Dr. Sérgio Cabral, nome altaneiro,
Que resgata no Rio de Janeiro
O sabor, o calor e a fragrância
Do Estado tambor de ressonância
Da cultura do povo brasileiro!

21
Obrigado também, Juca Ferreira,
Nosso novo ministro da Cultura,
O Brasil vai saber o quanto é pura
E brilhante demais sua carreira,
Gil partindo, você ergue a bandeira,
Ocupando a grandeza deste espaço
Gil já deu pra você, régua e compasso,
Que ele tem que gerir a própria fama...
Caro Gil, meu Brasil todo lhe ama;
Meu eterno ministro, aquele abraço!


22
Ofereço ao Brasil, motes e temas,
Versos, rimas, suor, inspirações,
Uma vida em razões e emoções
Um legado grafado em mil poemas:
“Meu Martelo” batendo nos sistemas
Opressores da vida do povão:
“Tanto Quanto”, “SOS Educação”,
“A Maldita Comédia” e “Dominantes”,
“Nossa Vez; Nossa Voz” contra os gigantes,
Auto da Liberdade em vossa mão!
23
Obrigado à família que comigo
Veio lá do País de Mossoró,
Quantas vezes deixei meu povo só
Pra cuidar da poética que persigo...
Aos amigos que longe do abrigo
Vêm aqui me trazer um riso manso,
À imprensa que mostra o grande avanço
Do Cordel que o cordão poético puxa
E a Gustavo, editor da Queima-Bucha,
Que editou este livro que hoje eu lanço!

24
Que o Cordel seja já reconhecido
Como mais uma Escola Literária
Que se expanda e penetre em toda área
Que o governo lhe chame de querido...
Acadêmicos com quem ora divido
A imortalidade em poesia;
Obrigado a “Luis Cidadania”,
Presidente da nossa Pátria amada;
E a Gonçalo, essa alma imaculada,
Presidente da nossa Academia.


Discurso de posse de
CRISPINIANO NETO
Na ABLC

Rio de Janeiro – 01.08.2008

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