Alvíssaras! Acaba de ser publicado, com o selo da Cortez Editora, meu novo livro, Quem conta história de dia cria rabo de cutia, lindamente ilustrado por Claudia Cascarelli. Abaixo, a apresentação que explica o porquê do título inusitado.
Muita história pra contar
O
escritor paulista Mário de Andrade, em Macunaíma,
sua obra mais famosa, utilizou uma expressão muito conhecida dos narradores de
contos populares: “Quem conta história de dia cria rabo de cutia”. Mais do que
mera superstição, a frase nos faz lembrar de que os contos populares costumam se
difundir mais entre os povos sem escrita. Ainda
que fizessem uso da escrita, as populações rurais, por exemplo, sempre dedicaram
o dia principalmente ao trabalho na lavoura. À noite, em volta da fogueira ou
sob a luz do lampião – ou mesmo durante trabalhos feitos em casa, como a
debulha do feijão ou a descasca do
milho –, apresentava-se a melhor ocasião para se narrar as histórias que
corriam de boca em boca, nascidas ninguém sabe onde, trazidas ninguém sabe por
quem.
A
única coisa que sabemos é que o hábito de contar histórias pertence a todos os
povos desde tempos imemoriais. E a fogueira em torno da qual os contadores e
ouvintes se reuniam, além de aquecer durante os invernos rigorosos, servia para
afastar os animais selvagens. Os nossos contadores de histórias, hoje tão raros
por causa da concorrência dos meios de comunicação eletrônicos, quando se negam
a contar histórias sob a luz do sol, aproximam-se de seus antepassados, como os
autores anônimos do livro das Mil e uma noites.
Nasci
e passei os primeiros anos de minha vida em uma fazenda chamada Ponta da Serra,
no sertão da Bahia. A maior diversão, minha e de meus irmãos, era escutar as
histórias contada pela avó Luzia. Ela era capaz de contar histórias durante a
noite toda sem repetir uma sequer. E, por mais que me esforce, não me lembro de
uma única vez em que ela tenha contado histórias durante o dia. Mas, no início
da noite, quando íamos buscar estrume de gado que, queimado, servia para
espantar os mosquitos que surgiam com o entardecer, as histórias da avó Luzia
pareciam jorrar de uma fonte inesgotável.
A
lembrança desse tempo fez nascer o poema que batizei com o nome do dito popular
que corre na boca do povo – como as histórias que ajudaram a definir a minha
caminhada na vida e na arte.
As estrofes iniciais do livro, composto por quadras setissílabas:
De vez
em quando retorno
No
tempo, sem retornar.
Quero
dizer que viajo,
Mas não
saio do lugar.
Nessas
viagens que faço,
Entro no
trem da saudade,
Que
corre sempre ao contrário
Dos
trens da grande cidade.
A viagem
dura pouco,
Pois,
apesar da distância,
O
pensamento conduz
Para a
Estação da Infância.
E, assim
que chego, me vejo
Correndo
livre nos campos,
Onde a
noite é governada
Pela luz
dos pirilampos.
E ouço
minha avó chamando,
De modo
bem carinhoso:
“Venha,
meu filho, escutar
Outra história de trancoso”.
O livro,como vocês podem notar, é uma viagem de retorno ao País da Infância, de que falava mestre Câmara Cascudo. E é dedicado a todos os contadores de histórias que continuam a remexer no baú da tradição.
O livro Quem conta história de dia cria rabo de cutia será lançado no próximo sábado, às 11h, na Livraria Cortez, rua Monte Alegre,1074. Na ocasião, haverá contação de histórias com o mestre Valdeck de Garanhuns.
2 comentários:
Olá!Marco Haurélio,
Parabéns por mais este
lançamento!"QUEM CONTA
HISTÓRIA DE DIA CRIA
RABO DE CUTIA".
Estou passando por
aqui, para lhe avisar
que estou divulgando
no meu blog e no meu
G+ o evento programado
pela EDITORA NOVA
ALEXANDRIA para homenagear
O DIA DO CORDELISTA, no
próximo sábado, dia 02/08,
na sede da editora.
Sucesso!
Cristina Sá
BLOG:
cristinasaliteraturainfantilejuvenil.blogspot.com.br/2014/07/convite-venham-comemorar-o-dia-do.html
G+:
google.com/+CristinaSá
Oi, Cristina. Obrigado pela visita e pela divulgação. Vou linkar seu blog ao Cordel Atemporal. Abraços!
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