Coruja dá gargalhada
Na casa que não tem dono.
A borboleta azulada,
Da cor de um papel carbono,
Faz ventilador das asas
Pra rosa pegar no sono.
Vítima de um atropelamento por motocicleta, quando atravessava uma das ruas do centro da cidade em que vivia, o poeta estava internado havia mais de 20 dias. Hoje, 2 de setembro, à madrugada, seu coração parou de bater. O óbito ocorreu no hospital Alpha, em Recife, para onde foi transferido para tratar um coágulo. A causa-mortis do grande poeta foi infecção generalizada.
Conheci-o em 2007, em São Paulo, ocasião em que entreguei-lhe um exemplar do livro Foi voando nas asas das Asa-Branca que Gonzaga escreveu a sua história (Luzeiro). Ele e vários expoentes do repente e do cordel glosaram o mote que dá título à obra, de minha autoria. Os versos de João Paraibano, feitos de improviso, foram anotados por Assis Angelo.
Transcrevo suas duas glosas, que, por sinal, tratam da inevitabilidade da morte, em tributo à sua iluminada passagem pela Terra:
O rei morto da cova não se alui,
Mas o nome do rei está vivendo.
Foi um rei sem coroa merecendo
A coroa melhor que um rei possui.
Meditei no Museu, depois que fui,
Que a vida do homem é ilusória.
Deus não compra assinando promissória,
O portão do sepulcro não tem tranca.
Foi voando nas asas da Asa Branca
Que Gonzaga escreveu a sua história.
Foi Gonzaga cantor e sanfoneiro,
Respeitou exigindo seu respeito,
Resgatou o baião, plantou no peito
Pra depois semear no mundo inteiro.
Ao soltar o suspiro derradeiro,
Encerrou a sua última trajetória.
Todo homem dá mão pra palmatória,
Quando a vida tropeça, o corpo manca.
Foi voando nas asas da Asa Branca
Que Gonzaga escreveu a sua história.
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