Morão di Privintina é o grupo criado por Paulo Araújo e João Filho, o primeiro, cantor e compositor, o segundo, poeta e contista com vários prêmios na cacunda.
Para não perder tempo, ou, como dizemos na região do São Francisco, "barco parado não ganha frete", reproduzo o release do grupo que inova sem abrir mão da tradição.
O regionalismo universal de Paulo Araújo
Cantor e compositor baiano, Paulo Araújo apresenta, em sua obra, as belezas naturais e o imaginário do Rio São Francisco.
A música rotulada de regional pode ser mais universal do que se imagina. Afinal, como disse ogrande escritor norte-mineiro Guimarães Rosa, “o sertão é o mundo”. É preciso evocar o grande artesão da nossa literatura e sua frase emblemática, dita por Riobaldo, protagonista de Grande Sertão: Veredas, para entender a universalidade da arte de Paulo Araújo. Cantor, compositor, poeta, militante das causas sociais em defesa do São Francisco, o rio de sua aldeia, Paulo Araújo, à frente do grupo musical Morão di Privintina, promove uma revolução silenciosa, em sons que evocam a ancestralidade mítica do povo nordestino e marcha em direção ao futuro imaginado, sonhado, esboçado em canções de grande agudeza poética.
Nascido em Bom Jesus da Lapa, no sertão baiano, cidade batizada por Euclides da Cunha como a Meca dos Sertanejos, Paulo Araújo vivenciou, desde menino, as ricas tradições culturais do Médio São Francisco e o fervor religioso da população local e dos romeiros, que, todo ano, chegam aos milhares para visitar o santuário local. O fundo da casa dos pais de Paulo é o morro sagrado do Bom Jesus, uma formação calcária, que abriga uma igreja, centro poderoso de devoção popular. Dos benditos e ladainhas, passando pelas cantigas de cego, cantos das lavadeiras e pregões populares, nada escapou à sensibilidade ímpar do artista em formação.
Aos 14 anos, a mãe, dona Maria de Araújo, presenteou-o com um violão, apontando o seu caminho na vida e na arte. Influenciado pelos artistas nordestinos de que despontavam no cenário nacional, no fim da década de 1970, a exemplo de Alceu Valença e Zé Ramalho, Paulo começou a compor timidamente as primeiras canções. Mas só se realizou mesmo com a criação do grupo Morão di Privintina, que idealizou com o também poeta e parceiro musical João Filho, em 1998, com o fito de participar de festivais, promover encontros e levar a cabo experimentações com o linguajar, os mitos e a alma barranqueira. Com João compôs canções emblemáticas, como I-Margem, Nobre Barranqueiro e Tempo de Perau, que integram o álbum Cama de Quiabento. A mistura das sonoridades do rio São Francisco e do sertão catingueiro ao rock, é a marca registrada do grupo, que lançou, recentemente, Janela do Ermo, que amplia a viagem com mais experimentalismos sonoros e poéticos.
Em 2016, a canção I-Margem foi escolhida para integrar a emblemática trilha sonora da novela Velho Chico, de autoria de Edmara Barbosa e Bruno Barbosa Luperi, exibida atualmente na faixa nobre da Rede Globo com direção artística de Luiz Fernando Carvalho. A faixa, além de ser o carro-chefe do cantor e compositor baiano, é ainda o mote do projeto cultural Canto das Águas – um Olhar sobre o Velho Chico, que percorrerá cidades banhadas pelo rio São Francisco, reunindo, além de Paulo Araújo, outros artistas, promovendo um diálogo entre a música popular e folclórica e a erudita. No momento, Paulo Araújo prepara ainda uma agenda de shows e apresentações pelo Brasil, sempre evocando as suas raízes ribeirinhas em canções que navegam pelo nosso imaginário e pela nossa memória afetiva.
CONTATO: diprivintina@gmail.com.
Conheça I-Margem, tema da novela Velho Chico, com arranjos do maestro Rafael Amadeu Luperi:
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