Já está disponível, no site da Nova Alexandria, a nova edição do livro Breve História da Literatura de Cordel. Esta nova edição, revista e ampliada, traz, assim como a anterior, ilustração de capa de Jô Oliveira.
Abaixo, um trecho da Introdução ao livro, sugestivamente batizada
como Chegança:
Dobrada a esquina do século e do
milênio, a Literatura de Cordel do Brasil, contrariando previsões pessimistas,
continua viva. A resistência deste ramo da literatura popular tem motivado
inúmeras discussões no meio acadêmico, no qual os estudos sobre Cordel são
cada vez mais frequentes. Há várias editoras tradicionais ou instituições
imprimindo e comercializando folhetos populares e, a cada dia, mais e mais
títulos são lançados em várias mídias, que vão da reprodução por xerox até a
impressão em off-set. Verdade que, como em qualquer outro gênero literário,
qualidade e quantidade nem sempre caminham juntas. Mas, ao final, somente a
joeira do tempo dirá quem sobreviveu às novas possibilidades.
Desde a origem, quando circulou
em manuscritos ou em poemas preservados na memória de cantadores e contadores
de histórias, até o momento em que se iniciou a produção em larga escala por
iniciativa do poeta paraibano Leandro Gomes de Barros, paraibano de Pombal que
migrou para cidades dos arredores do Recife, até fixar-se definitivamente na
capital pernambucana, o Cordel conheceu cumes e abismos, passou por
transformações e se adaptou aos novos tempos. Algumas características básicas
definidoras, como a preferência dos autores pelos versos em redondilha maior
(de sete sílabas poéticas), com predominância da sextilha, além de temáticas
que mesclam o regional ao universal, permanecem. Com Leandro, até hoje
considerado o maior poeta do gênero, no final do século XIX e nas duas
primeiras décadas do século XX, o Cordel atingiu o primeiro ápice. Não que este
poeta tenha sido o primeiro a imprimir e vender folhetos. Definitivamente não o
foi. Há registros de folhetos de autores portugueses e brasileiros que
circularam antes da alardeada e nunca comprovada data – 1893 – de publicação do
primeiro folheto de Leandro. A sua contribuição maior, para além da qualidade
de sua obra, foi a criação de uma atividade editorial regular, com o
estabelecimento de um modelo que seria imitado por todos os futuros editores,
fossem eles poetas ou não. Sua estratégia de publicar os romances e folhetos em
fatias, à maneira dos folhetins, mimetizando uma prática comum aos jornais do
século XIX, foi muito bem-sucedida, se levarmos em conta a formação de um
público fiel e ávido por novidades.
A editoração, a partir da década de 1920, com
a ascensão de João Martins de Athayde, outro paraibano radicado na Veneza
brasileira, chegou a um nível de profissionalismo tal que, para atender à
demanda de uma legião de leitores, eram impressos milhares de exemplares de um
único volume. Athayde, que trabalhava com os títulos de sua autoria e de outros
poetas, adquiridos por compra ou permuta (a popular conga), aperfeiçoou o
sistema de publicação e distribuição de Leandro, publicando os cordéis em
versões integrais ou, quando necessário, em dois ou mais volumes. De 1921 a
1949, embora enfrentando a concorrência do aguerrido poeta, editor e livreiro
paraibano Francisco das Chagas Batista, em suas aventuras em tipografias pelo
interior e, finalmente, na capital de sua terra natal, Athayde foi quase senhor
absoluto de seu ofício.
Muitos outros nomes ajudaram a
definir os rumos da literatura de cordel nordestina, a exemplo de José Camelo
de Melo Resende, autor do Romance do Pavão Misterioso e de outros tantos
títulos de prestígio, e José Pacheco da Rocha, o brilhante autor de A chegada
de Lampião no Inferno, o mais memorável dos folhetos humorísticos, cuja
inspiração parece vir do teatro de mamulengos, por sua vivacidade despojada de
adornos e floreios. Outra geração, nascida no início do século passado, teve um
papel igualmente importante na consolidação do gênero, com a ampliação do
referencial temático, resultante das muitas diásporas sertanejas, e a
consequente evolução gráfica, a partir do desenvolvimento de uma atividade industrial
de impressão em São Paulo, depois da década de 1950. Destaca-se, então, a
editora Prelúdio, a princípio assessorada pelo baiano Antônio Teodoro dos
Santos e depois por Manoel D’Almeida Filho, rebatizada na década de 1970 como
Editora Luzeiro, responsável por uma revolução em termos comerciais, a ponto de
chocar com suas capas coloridas e edições bem cuidadas os pesquisadores
puristas ou “tradicionalistas”.
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